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    porto velho, sexta-feira 8 de agosto de 2025

O que somos molda o que temos - Artigo da advogada Louises Haufes

Não se trata de uma mera correlação, mas de uma relação de causa e efeito...


Louise Souza dos Santos Haufes

Publicada em: 06/08/2025 17:30:01 - Atualizado

Foto: Reprodução

Quando a crise moral vira crise financeira.

Não se trata de uma mera correlação, mas de uma relação de causa e efeito, onde a integridade do alicerce ético de nossas vidas é o que sustenta ou fragiliza a estrutura de nossa prosperidade.

A sabedoria milenar, especialmente a contida nas Escrituras Sagradas, tem, há muito tempo, discorrido sobre a profundidade dessa relação. A prosperidade financeira, por mais que possa parecer atrelada a métricas econômicas ou estratégias de mercado, é, em sua essência mais profunda, um espelho do caráter. O comportamento humano, forjado por princípios ou pela ausência deles, é o verdadeiro artífice da estabilidade ou da instabilidade de nosso patrimônio, reverberando a verdade de que "a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória."

A ética funciona como um alicerce invisível, mas essencial, para a construção da prosperidade. Mesmo que estratégias econômicas sejam importantes, elas pouco valem se não forem sustentadas por valores como responsabilidade, transparência e coerência.

O autoengano, a ambição e a inconsistência são exemplos de atitudes éticas que, quando negligenciadas, tendem a gerar consequências financeiras negativas.

Vivemos em uma era em que é fácil distorcer a realidade a favor de narrativas convenientes. Esse autoengano, embora confortável a curto prazo, impede diagnósticos honestos e decisões eficazes. É ele quem justifica gastos desnecessários, posterga resoluções urgentes e alimenta expectativas irreais sobre a própria situação financeira.

Essa desconexão com a realidade tende a criar um ciclo vicioso: quanto mais negamos os problemas, maiores eles se tornam. A solução começa com coragem para ver os fatos como são, não como gostaríamos que fossem. A clareza é um investimento.

A ambição, em sua forma saudável, é motor de crescimento. Mas, quando se transforma em ganância, ela frequentemente conduz a decisões imprudentes, como investimentos arriscados, práticas questionáveis ou alianças desonestas.

Pessoas e empresas que colocam os ganhos acima da ética até podem obter lucros no curto prazo, mas invariavelmente pagam caro: com a reputação, com processos judiciais ou com colapsos internos. A busca por riqueza deve andar lado a lado com limites morais claros. Sem isso, o crescimento é instável e muitas vezes ilusório.

Prometer e não cumprir. Firmar compromissos e ignorá-los. Manipular ou omitir informações. Todas essas atitudes minam a confiança e confiança é um ativo essencial nas finanças.

Mesmo quem não compartilha de uma visão espiritual reconhece que valores como honestidade, responsabilidade, coerência e generosidade trazem benefícios concretos. Eles reduzem riscos, promovem estabilidade, facilitam parcerias e constroem um legado respeitável.

A falta de ética, por outro lado, cobra caro: em forma de multas, processos, desconfiança, desmotivação interna, desgaste emocional e perdas financeiras diretas. Em tempos de crise, são os princípios sólidos que seguram a estrutura.

A ideia de "colher o que se planta", por exemplo, não é exclusiva de Escrituras Sagradas. É um princípio universal, observado na psicologia, na economia e no convívio social. Decisões têm consequências. E as consequências, mais cedo ou mais tarde, chegam.

Após quase duas décadas atuando como advogada, posso afirmar com segurança: a verdadeira causa de muitos colapsos financeiros não é a falta de dinheiro, mas a falta de coerência. Quando princípios são ignorados, cedo ou tarde os números deixam de fechar.

Não é possível construir uma prosperidade duradoura sobre alicerces frágeis. O que somos molda o que temos. A integridade, mesmo quando invisível, é um dos bens mais valiosos e lucrativos que alguém pode possuir.

Ética não é um adorno moral. É um ativo estratégico. E negligenciá-la, além de um erro humano, é um risco financeiro.

*Louise Souza dos Santos Haufes, é advogada, sócia do escritório Haufes & Oliveira Neto Advogados e autora do livro Ética na Advocacia o que ninguém te conta.


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