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    porto velho, quarta-feira 13 de agosto de 2025

Enquanto saneamento agoniza na cidade, farmácias proliferam sob manto de mistério

A questão que intriga e preocupa é: quem são os donos dessas farmácias?...


Redação

Publicada em: 12/08/2025 22:48:30 - Atualizado

PORTO VELHO - RO - A capital de Rondônia figura, ano após ano, entre as piores capitais brasileiras no ranking de saneamento básico. Segundo dados oficiais, apenas 9,89% da população conta com coleta de esgoto, e menos de 2% do que é produzido recebe tratamento. O restante segue para os igarapés, para o lençol freático e, inevitavelmente, para dentro das casas e do organismo dos moradores.

Essa fragilidade sanitária não é apenas um problema de saúde pública — tornou-se uma oportunidade de ouro para um mercado que cresce no silêncio: o farmacêutico. Em diversas regiões da cidade, o fenômeno é o mesmo: fachadas novas surgem “do nada”, principalmente em pontos estratégicos de grande circulação. Uma esquina conhecida da capital, é o exemplo mais escandaloso — quatro farmácias disputando o mesmo cliente, quase no braço, em busca de quem das vezes de quem adoeceu por conta da água e do esgoto sem tratamento.

A questão que intriga e preocupa é: quem são os donos dessas farmácias? Os recursos desses empreendimentos são de origem lícita? Será que muitos estabelecimentos não estão ligados a redes de fachada ou franquias “importadas” que, na prática, funcionam como cortina para investidores que evitam aparecer?. 

A chamada “rede vermelha”, sem a menor cerimônia já engoliu a rede azul e dezenas de pontos independentes e, segundo comerciantes da área central, negocia silenciosamente para absorver pelo menos mais cinco unidades até o fim do ano. E com essa fusão, põe o valor dos medicamentos do preço que quiser.

Fontes ligadas ao setor afirmam que há indícios de participação de grupos econômicos com trânsito livre nos corredores do poder e que alguns donos até teriam mandatos eletivos. Fato que merece no mínimo uma averiguação  vigorosa.

Por outro lado, a ausência de fiscalização urbanística e sanitária, somada à emissão de novos alvarás, levanta suspeita de onde estão vindo tantos empresários do setor e como abrem tantas farmácias da noite para o dia. Nenhum órgão público, até agora, apresentou transparência sobre quem são os reais controladores desse império farmacêutico que, monopolizando, atira no bolso do idoso que precisa de medicamentos de uso contínuo.

No meio desse tabuleiro, o prefeito Léo Moraes-Podemos recebeu um abacaxi gigante ao assumir, em janeiro de 2025. Herdou décadas de abandono no saneamento e um cenário onde a doença é moeda corrente. Léo iniciou mutirões, convocou reuniões emergenciais com Emdur, Caerd, Semob, Semusb, (hoje com outras nomenclaturas) e determinou obras até no período noturno para tentar reagir. Mas o tempo corre, e cada dia de ineficiência no saneamento é um dia de lucro para o negócio das farmácias.

Porto Velho vive, assim, uma contradição escancarada: o esgoto corre a céu aberto, mas o mercado de venda de medicamentos voa, sem saber quem é o piloto.

Enquanto não se descascar de vez o abacaxi do saneamento, a cidade continuará doente — e alguns continuarão enriquecendo em silêncio às custas da dor alheia.

Com a palavra o Ministério Público.


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