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PF conclui que morte de Ari-Uru-Eu-Wau-Wau ‘não tem ligação com crimes ambientais’

O pedido de declínio foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF), e acatado pela Justiça Federal, se baseando no relatório final da PF sobre a morte.


G1

Publicada em: 27/08/2022 11:36:47 - Atualizado


JARU, RO - O caso do líder indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau retornou para responsabilidade da Justiça Estadual, depois que a Polícia Federal concluiu que a morte do ativista “não tem ligação com crimes ambientais”. Ari era professor e muito conhecido no estado por trabalhar registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro de sua terra.

O pedido de declínio foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF), e acatado pela Justiça Federal, se baseando no relatório final da PF sobre a morte. A informação foi confirmada pelo órgão nesta sexta-feira (26).

Inicialmente, as investigações apontaram indícios de que o crime tinha ligação com o trabalho de Ari em denunciar o desmatamento e a venda ilegal de madeira em seu território. No entanto, nesta sexta, a PF informou ao g1 que a causa, possivelmente, foi que “o suspeito estaria incomodado com a presença de Ari na região”.

Segundo o MPF, a investigação aponta que o suspeito é dono de um bar frequentado pelo líder indígena e os dois teriam se desentendido. O caso estava sob responsabilidade federal, porém, com a decisão recente, deve ser julgado pela Justiça Estadual.

O suspeito foi preso no dia 13 de julho deste ano e permanece detido. Segundo a PF, ele tem histórico de práticas violentas e é acusado de outros crimes, incluindo homicídio.

Detalhes do crime

Motoneta foi encontrada ao lado de corpo de indígena Uru-eu-wau-wau em RO — Foto: Reprodução

Ari foi morto durante a noite de 17 de abril de 2020 em um distrito de Jaru (RO) e o corpo foi encontrado na manhã seguinte, com sinais de lesão contundente na região do pescoço, que ocasionou uma hemorragia aguda.

A PF informou que o corpo de Ari não tinha sinais de autodefesa. Com base nessa constatação, uma das hipóteses é que o suspeito dopou o líder indígena e o agrediu até a morte, depois disso teria movido o corpo para outro local.

Apesar de ter sido preso, o homem não quis prestar depoimento para a polícia. Porém, a corporação aponta que ele narrou para terceiros detalhes sobre o crime que somente foram constatados pela perícia.

Repercussão

Para a ativista indígena Ivaneide Bandeira, a conclusão da investigação é “revoltante”, “lamentável” e vai contra o que os povos indígenas acreditam.

“Nós temos certeza absoluta que tudo é ligado a invasão das terras dos Uru-Eu-Wau-WAau, que tudo é ligado a falta de proteção do território, a falta de proteção aos povos indígenas”.

Ela lembrou que Ari trabalhava registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro de sua terra, pois fazia parte do grupo de monitoramento do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Segundo a ativista, os crimes ambientais denunciados por ele só aumentam com o passar do tempo.

“O que nós estamos vendo é cada dia mais invasão, mais degradação, mais grilagem, mais queimada. Muito triste ver que não há Justiça no caso do Ari”, disse.

O legado

O nome do professor Ari continua a ecoar dentro e fora de Rondônia. Ele foi lembrado na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) na Escócia, durante discurso da ativista indígena Txai Suruí, em novembro do ano passado.

“Enquanto vocês fecham os olhos para a realidade, o defensor da terra Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo desde que eu era criança, foi assassinado por defender a floresta. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática e nós precisamos estar no centro das decisões tomadas aqui”, disse Txai durante discurso (assista abaixo).

Txai foi a única brasileira a discursar na abertura oficial da conferência, que aconteceu em Glasgow, cidade da Escócia. Lideranças de todo o mundo escutaram seu discurso.

Ari também é parte importante na construção do documentário “O Território”. O filme foi produzido com ajuda de indígenas Uru-Eu-Wau-Wau e mostra a História desse povo pela defesa de suas terras.

O documentário venceu duas categorias no Festival Sundance de Cinema, em janeiro deste ano, são elas: Prêmio do Público e Prêmio Especial do Júri para Arte Documental.

O documentário, primordialmente filmado em Rondônia, tem participação de cineastas locais. Quem ajuda a traçar a linha narrativa é Bitaté, um jovem Uru-Eu-Wau-Wau e a indigenista Ivaneide Bandeira, conhecida como Neidinha. A partir deles, “O Território” se apropria da arte e da linguagem audiovisual para denunciar desmatamentos, invasões de terras, queimadas e perseguições.

“Para o meu povo assistir esse documentário hoje é muito forte porque ele [Ari] esteve presente no início. Lembrar é um furo no coração da gente”, diz Bitaté.

Ari também foi lembrado no relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgado em 2021, em Rondônia. O documento aponta que há anos a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau sofre com invasões, desmatamento, grilagem e queimadas.


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