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    porto velho, sábado 1 de fevereiro de 2025

Macron perde maioria no Legislativo com derrota 'histórica' e avanço da esquerda e direita

Partido de Marine Le Pen surpreendeu e conseguiu multiplicar por dez sua presença no Parlamento


g1

Publicada em: 20/06/2022 10:18:27 - Atualizado

MUNDO: A coligação do presidente francês, Emmanuel Macron, não conseguiu manter maioria absoluta no Parlamento no segundo turno das eleições legislativas, disputadas neste domingo (19) em clima de suspense em razão dos resultados apertados da primeira votação, realizada no último dia 12.

Os resultados oficiais divulgados pelo Ministério do Interior indicam que a coligação centrista "Ensemble!" ("Juntos!") de Macron obteve 245 cadeiras na Assembleia Nacional. Para obter a maioria absoluta, seria necessário conquistar 289 dos 577 assentos.

Apesar de sua coalizão ter sido a mais votada, Macron precisará, na avaliação de especialistas, buscar alianças e terá grandes dificuldades para governar devido ao forte avanço de forças de esquerda e sobretudo da direita radical de Marine Le Pen, que obteve um desempenho recorde nesta eleição legislativa.

Após a divulgação das primeiras projeções na noite de domingo (19/6), a primeira-ministra do país, Elisabeth Borne - que também era candidata e conseguiu se eleger - disse em pronunciamento na TV francesa que nunca havia visto uma Assembleia Nacional como a que se configura agora.

"A situação representa um risco para o país, dados os riscos que já temos enfrentado nacional e internacionalmente", declarou. "Vamos trabalhar a partir de amanhã para construir uma maioria."

Um precedente já havia ocorrido com o socialista François Mitterrand em 1988, mas em circunstâncias distintas, já que na época ele não dispunha de uma maioria na Assembleia Nacional, diferentemente de Macron atualmente.

Era a oposição de direita republicana que dominava o Parlamento naquela época, e Mitterrand convocou novas eleições legislativas, obtendo maioria relativa.

"Macron diante do risco de paralisia política", escreveu o jornal Le Monde em seu site. A derrota do presidente francês está sendo chamada pela imprensa francesa de "histórica". Ele terá agora de enfrentar forças políticas que se opõem feroz e sistematicamente a tudo o que o governo apresenta.

A Nupes, sigla da Nova União Popular Ecológica e Social, uma coalizão das principais forças de esquerda do país, formada por iniciativa de Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, da esquerda radical, ficou em segundo lugar e conquistou 131 cadeiras, segundo o ministério do Interior.

Com o desempenho, a Nupes - que, além da França Insubmissa, reúne os partidos Socialista, Ecologista e Comunista -, se torna numericamente a principal força de oposição no Legislativo. A questão que se coloca agora é se a aliança, que deverá formar grupos separados no Parlamento em função dos partidos, conseguirá se manter unida e irá durar.

O resultado da coalizão representa um salto em relação à atual legislatura, onde a esquerda como um todo reúne menos de 80 deputados. Em um discurso nesta noite, Mélenchon afirmou que a "derrota do partido presidencial é total".

Mas o avanço considerado inédito e que representa a evolução mais significativa - que não havia sido prevista nessas proporções nas pesquisas que precederam a votação - é o da direita radical de Marine Le Pen.

O Rassemblement Nacional (Reagrupamento Nacional) de Le Pen foi a terceira força mais votada e multiplicou por 12 seu número de deputados, alcançando melhor desempenho em uma eleição legislativa desde a criação do partido fundado por Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, há 50 anos.

O Rassemblement Nacional passou de apenas sete deputados na atual legislatura, que se encerra, para 89, de acordo com os números divulgados pelo ministério do Interior. "É um tsunami", declarou o presidente do partido, Jordan Bardella. O resultado inesperado é considerado uma guinada no cenário político francês.

Com o desempenho, a direita radical de Le Pen poderá, pela segunda vez em sua história (a primeira foi em 1988), formar um grupo no parlamento francês, que exige um número mínimo de 15 deputados. Isso garante mais meios materiais e financeiros, tempo para discursar, mas sobretudo o direito de apresentar projetos de lei.

O segundo turno destas eleições legislativas, como o primeiro, foi marcado por uma forte abstenção, de 53,8%, de acordo com o Ministério do Interior. Os jovens e operários são os que mais se abstêm de votar - na França, o voto não é obrigatório.

O duelo apertado entre a aliança centrista de Macron e a frente de esquerda Nupes no primeiro turno, que resultou em um empate, com uma diferença de apenas cerca de 21 mil votos a favor do Ensemble! de Macron, levou o presidente francês a lançar apelos às vésperas desse segundo turno, alertando que haveria "desordem" ou "bloqueio" da vida política francesa se ele não obtivesse uma "maioria sólida" no Parlamento.

Na França, tradicionalmente o partido do presidente que acaba de ser eleito (no caso de Macron, reeleito em abril) vence também as eleições legislativas que ocorrem na sequência do pleito presidencial. Isso é interpretado como um voto de confiança ao novo chefe de Estado, para que ele possa levar adiante seu programa de governo.

Mas Macron já vinha enfrentando forte oposição de parte do eleitorado, que se voltou para partidos radicais nas eleições presidenciais que reuniram mais da metade dos votos no primeiro turno em abril passado.

Quando foi eleito pela primeira vez, em 2017, Macron conseguiu obter sem dificuldades uma maioria absoluta no Legislativo, com 308 deputados, apesar de seu partido, recém-criado, não ter nenhum deputado na época.

Agora, sua sigla, rebatizada de Renascimento (antigo República em Marcha), teria obtido apenas cerca de 150 cadeiras, conforme estimativas. Os demais partidos de sua coalizão completaram a diferença, totalizando as 245 cadeiras conquistadas.


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