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porto velho, quinta-feira 6 de fevereiro de 2025
MUNDO: A guerra na Ucrânia completa um ano nesta sexta-feira (24). O conflito, que já deixou milhares de mortos e de desabrigados, parece longe do fim.
O país liderado por Volodymyr Zelensky resiste aos ataques da Rússia, com fôlego adicional obtido a partir do apoio de países do Ocidente e de membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Quando se fala em guerras, um dos maiores receios da comunidade internacional é a escalada do conflito para um enfrentamento nuclear que pode ser devastador para a humanidade.
Pesquisadores e cientistas políticos consultados pelo site avaliam os potenciais riscos do uso de armas nucleares na guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Existem diferentes tipos de armas nucleares, com objetivos e poder destrutivo distintos. As armas táticas são voltadas a ataques pontuais, que atingem tropas ou bases militares de maneira limitada e concentrada. Já as armas estratégicas contam com um maior poder destrutivo e podem levar a uma ampla contaminação radioativa do ambiente, colocando em risco um número de pessoas inestimável.
O professor da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Jorge Ramalho da Rocha aponta que há indícios de que a Rússia pode avançar na direção de empregar armas nucleares – nesse caso, as táticas.
“Há indícios importantes de que a Rússia pode avançar na direção de empregar armas nucleares táticas. A doutrina russa de emprego de artefatos nucleares prevê seu emprego em caso de ‘ameaças existenciais’ ou ao seu território. Em mais de uma ocasião, o porta-voz do Kremlin e o próprio presidente Putin lembraram a comunidade internacional disso”, afirma Rocha.
Entretanto, a tendência não é escalar para o emprego de artefatos nucleares no futuro previsível, segundo o especialista. A guerra está longe do fim e há muitas possibilidades de escaladas convencionais, ou mesmo inovadoras, antes do recurso a armas nucleares.
“O segundo aspecto da questão é que a Rússia entende as implicações do emprego dessas armas, razão pela qual também vem reafirmando sua tradicional postura de ‘não-emprego inicial’, isto é, de não ser o primeiro a utilizar armamentos nucleares de qualquer natureza, já que isso pode levar a reações em cadeia, a uma escalada que coloque a humanidade em um ponto de não-retorno”, acrescenta.
Para os pesquisadores, a Rússia vem conduzindo uma postura de maneira racional até agora, o que indica uma disposição a continuar no emprego de armas convencionais combinadas a instrumentos de guerra híbrida – como mercenários, comandos descaracterizados, ataques cibernéticos, fake news orientadas a dividir seus adversários e inimigos.
“Sim, a Rússia está ameaçando escalar um conflito para um nível mais alto nuclear há um ano e não o faz. Por que se utilizasse armas nucleares, principalmente contra o Ocidente, seria garantido uma retaliação do Ocidente”, afirma o professor Kai Enno Lehmann, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).
“Isso eu imagino que significaria o fim do regime de Vladimir Putin. No final das contas, muitas pessoas, inclusive o Putin, e muitos daqueles que dependem dele para se sustentar em uma posição de poder não querem isso”, completa.