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porto velho, sexta-feira 23 de maio de 2025
O site teve acesso a mensagens trocadas pelo então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência Gonçalves Dias e o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura Cunha em 8 de janeiro e nos dias que antecederam os ataques às sedes dos Três Poderes da República naquele dia.
No dia 6 de janeiro, às 8h12, o ainda ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Marco Edson Gonçalves Dias (o G. Dias), encaminhou ao então diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, uma mensagem postada em grupos bolsonaristas que alertava os manifestantes a fechar a entrada de acesso à Praça dos Três Poderes, em Brasília.
“Fechar a entrada dos 3 poderes em Brasília: Executivo, Legislativo e Judiciário (quem puder ir a Brasília, vá!)”, diz um trecho do texto compartilhado com Saulo Cunha via WhatsApp.
Às 8h15, o ex-diretor da Abin responde ao general G. Dias afirmando que está acompanhando a situação, mas que não havia nada que indicasse movimentação para Brasília.
Em seguida, Saulo Cunha diz que as movimentações são “bravatas”.
Às 20h22 do mesmo 6 de janeiro de 2023, o ex-diretor da Abin volta atrás e encaminha outra mensagem para o general Gonçalves Dias com o título: “PERSPECTIVA DE MANIFESTAÇÃO EM BRASÍLIA”.
Essa mensagem alertava que nos dias 7, 8 e 9 de janeiro de 2023 haveria risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades e que organizadores convocavam manifestantes com acesso a armas.
A mensagem alertava ainda que havia a intenção de invadir o Congresso e que outros edifícios poderiam ser alvo de ações violentas.
Esse foi o primeiro informe da Abin, alertando para o risco de invasão aos prédios.
“PERSPECTIVA DE MANIFESTACÕES EM BRASÍLIA. 06/01/2023 – 19h40. A perspectiva de adesões às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan. 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades. Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios na Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo de ações violentas”, diz a mensagem.
No dia seguinte, 7 de janeiro, às 11h22, Saulo Cunha volta a alertar Gonçalves Dias com outra mensagem, com o título: “MANIFESTACÕES CONTRA O RESULTADO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS”.
A mensagem alerta para a chegada de 18 ônibus de outros estados para participar de manifestações e pela segunda vez afirma que há convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos.
“MANIFESTACÕES CONTRA O RESULTADO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS”. 07/01/2023 – 10h30. Em Brasília, há registro de chegada no QG do Exército de 18 ônibus de outros estados para participar de manifestações. Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios. Desde a madrugada de hoje caminhões tanque que transportam combustível não acessam a distribuidora de combustíveis anexa à refinaria (REVAP) de São José dos Campos-SP. Há presença de manifestantes auto intitulados ‘patriotas’ no local. Outros tipos de caminhões que transportam tipos de produtos distintos de combustíveis, assim como carros utilitários, ônibus e outros veículos estão acessando normalmente”, relata a mensagem.
Às 12h11 do dia 7 de janeiro de 2023, a Abin alerta o general Gonçalves Dias para o aumento no número de ônibus em Brasília.
Pela terceira vez, ele fala sobre convocações para ações violentas de ocupações de prédios públicos.
Às 18h28 do dia 07 de janeiro de 2023, a Abin alerta sobre a presença de ônibus em Brasília, cita uma mobilização denominada “Tomada de poder” prevista para ocorrer nos dias 07 e 08 de janeiro de 2023.
Faz ainda, pela quarta vez, o alerta sobre ocupações de prédios públicos.
Em outra mensagem, no mesmo horário, o então diretor da Abin cita que “em rede social, divulgou-se a intenção de descida à Esplanada dos Ministérios hoje à noite”. Ou seja, noite do dia 7 de janeiro.
Chegamos ao 8 de janeiro de 2023, data da invasão às sedes dos Três Poderes.
Às 8h53, a Abin encaminha para o general G. Dias placas de 99 ônibus que chegaram à área central de Brasília até meia-noite.
Às 8h56, Gonçalves Dias responde ao ex-diretor da Abin, Saulo Cunha, afirmando: “Bom dia.. Vamos ter problemas”.
Às 8h58, a Abin faz o alerta que os manifestantes iriam partir em marcha para a Esplanada às 13h.
Às 10h33, a Abin novamente faz o quinto alerta sobre convocações e incitações para deslocamento até a Esplanada dos Ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas.
Às 12h05, o ex-diretor-adjunto da Abin Saulo Cunha alerta pela segunda vez o ex-ministro Gonçalves que os manifestantes devem iniciar o deslocamento para a Esplanada às 13h. Ele cita que houve relatos de pessoas armadas.
“Pessoal do QG deve iniciar deslocamento, às 13h, para a Esplanada. Ânimo pacífico entre a maioria mas houve relatos de pessoas que se dizem armadas. Em monitoramento”, afirma Paulo Cunha em mensagem.
Pouco depois das 14h, os manifestantes invadiram a Esplanada dos Ministérios e, minutos depois, entraram e depredaram as sedes dos Três Poderes: os palácios do Congresso Nacional (Legislativo), do Supremo Tribunal Federal (Judiciário) e do Palácio do Planalto (Executivo).