Fundado em 11/10/2001
porto velho, segunda-feira 3 de novembro de 2025

PORTO VELHO - RO - A cena política de Rondônia começa a se redesenhar com nitidez. A esquerda, que andava dispersa e silenciosa, voltou a se reunir – desta vez em Cacoal – em um movimento que, mais do que simbólico, revela uma estratégia de consolidação de forças em torno do nome do senador Confúcio Moura (MDB) para o governo do Estado em 2026.
O encontro, realizado na Câmara Municipal de Cacoal, não apresentou caras novas, mas evidenciou que antigas lideranças estão novamente dispostas a compor um bloco coeso. PT, MDB, PDT, PSOL, PCdoB, Rede e outras siglas menores deram demonstração pública de que o diálogo entre as legendas avança. A ausência do próprio Confúcio, contudo, foi notada — e interpretada como um gesto calculado, típico de quem mede o tempo político com precisão cirúrgica.
A volta dos Gurgacz e a retórica da fidelidade a Lula
O protagonismo do encontro coube à família Gurgacz, tradicional na política rondoniense. O ex-senador Acir Gurgacz, presidente regional do PDT, e o ex-deputado estadual Airton Gurgacz, apontado como provável vice na futura chapa de Confúcio, ocuparam o centro das atenções.
Em tom de lealdade e reconciliação ideológica, Acir discursou defendendo a parceria histórica com o petismo:
“Estamos juntos com o PT desde 2000. Em 2002, abraçamos a candidatura do presidente Lula e, de lá pra cá, nunca nos separamos. Isso se chama coerência”, declarou, sendo aplaudido por militantes e dirigentes presentes.
O pedetista ainda fez referências ao ex-prefeito Acelino Marcon, “liderança histórica do PDT em Cacoal”, e ao Padre Franco, ex-prefeito da cidade, atualmente foragido na Itália, acusado de irregularidades administrativas. Mesmo assim, Acir evocou seus nomes como exemplos de “compromisso e lealdade ao desenvolvimento com justiça social”, numa tentativa de resgatar a narrativa romântica da esquerda trabalhista.
O tabuleiro da sucessão
A movimentação em Cacoal não é isolada. Faz parte de uma série de encontros regionais articulados por dirigentes partidários e assessores próximos de Confúcio Moura. O objetivo é testar a capilaridade política do grupo e preparar o terreno para uma candidatura que, embora ainda não anunciada oficialmente, ganha contornos cada vez mais nítidos.
Nos bastidores, comenta-se que o senador, ciente da dificuldade de reconquistar o Senado em meio à ascensão de nomes como Sílvia Cristina (PL) e Fernando Máximo (União Brasil), enxerga no retorno ao Executivo estadual a chance de coroar sua trajetória política.
Com perfil moderado e discurso conciliador, Confúcio, apesar de negar sua pretensão em disputar o governo, surge como um “ponto de equilíbrio” para unir as diferentes vertentes da esquerda rondoniense, em um momento em que o bolsonarismo mantém forte presença no Estado e rechaça qualquer apoio ao Governo Lula.
Reorganização estratégica
A reunião em Cacoal indica o início de uma reorganização estrutural da esquerda no interior de Rondônia. Se antes o grupo se limitava a Porto Velho, agora amplia sua base política para municípios-chave do eixo BR-364, buscando recuperar espaços perdidos nas últimas duas eleições.
Mesmo sem Confúcio no palanque, o evento cumpriu seu papel: sinalizou que o projeto 2026 está vivo, e que a esquerda pretende disputar o poder com discurso de reconstrução e responsabilidade social.
Impacto na base governista
A consolidação do nome de Confúcio Moura como potencial candidato ao governo provoca reações imediatas na base do governador Marcos Rocha (União Brasil). Internamente, aliados veem o avanço da esquerda como um movimento capaz de fragmentar o campo moderado, forçando Rocha e seus apoiadores a acelerar decisões sobre alianças e sucessão.
Silêncio de Marcos Rocha
Enquanto o atual governador mantém-se em silêncio estratégico, figuras de peso da base — como o vice Sérgio Gonçalves e o deputado federal Fernando Máximo — União Brasil, começam a ser testadas em sondagens eleitorais. A rearticulação da esquerda, portanto, quebra a inércia política e devolve ao tabuleiro de Rondônia um cenário de disputa real, onde o MDB e o PT voltam a jogar como protagonistas.
Para analistas políticos, o encontro de Cacoal foi mais do que um ato partidário — foi um ensaio estratégico de reocupação política. A ausência do protagonista, longe de enfraquecer o movimento, reforçou a ideia de que Confúcio Moura observa o cenário de cima, com o pragmatismo de quem conhece o poder e sabe esperar o momento certo de embarcar novamente na locomotiva do governo.