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porto velho, quarta-feira 23 de abril de 2025
BRASIL: O número de doenças que afetam a visão, como miopia, catarata e degeneração macular está aumentando no mundo todo, por diferentes motivos. O aumento dos casos de miopia, por exemplo, tem sido observado entre crianças e foi considerado um dos problemas de saúde pública que mais crescem no mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A tendência está associada principalmente aos hábitos de vida.
Outro comportamento que coloca em risco a saúde ocular são procedimentos estéticos, como botox, preenchimento e até mesmo extensão de cílios. Por outro lado, condições como catarata e degeneração macular podem levar à cegueira e estão associadas ao envelhecimento da população.
Em entrevista ao GLOBO, o oftalmologista Francisco Max Damico, um dos mais respeitados do país e professor livre docente da Faculdade de Medicina da USP, explica as causas desses problemas, como preveni-los e tratá-los.
Estudos mostram que o número de casos de miopia está aumentado, isso era previsível?
Não porque isso está acontecendo por novos hábitos de vida. O aumento não está associado à radiação das telas do celular e do computador, como muitos pacientes pensam. Mas sim ao hábito de ver as coisas de perto por muito mais tempo, seja celular, computador, iPad ou até mesmo um livro. Os dados mostram que no começo dos anos 2000, cerca de 25% da população era míope. Hoje, em torno de 35%. A estimativa é de que em 2050, 50% da população seja míope. Além disso, o grau de miopia da população também está aumentado. Existem estudos, principalmente, na China, onde a população é muito grande, que mostram que as crianças que ficam mais tempo em ambiente fechado, vendo de perto, têm mais miopia e com grau mais alto do que quem fica no ambiente mais aberto. Em outras palavras, a diferença não é o ambiente em si e sim o fato de que quem está em um ambiente fechado, usa mais a visão de perto e quem está em ambiente aberto, a de longe.
A cirurgia para correção de miopia é segura e eficaz?
A cirurgia é uma excelente opção e supersegura, embora, como qualquer procedimento, tenha riscos. De modo geral, as possíveis complicações são tratáveis. Então eu não tenho medo nenhum de indicar a cirurgia. Tem dois fatores fundamentais para o sucesso do procedimento. O primeiro é a pessoa querer fazer. Eu nunca ofereço cirurgia refrativa para um paciente. O segundo fator é uma avaliação pré-operatória bem-feita. Existe uma série de exames que precisam ser feitos antes da cirurgia para planejar a melhor técnica para aquele paciente e para ver se aquele olho é um bom candidato a cirurgia. Quem tem a córnea muito fina, por exemplo, não deve operar porque isso gera outro problema, chamado ceratocone, que é incorrigível e que tem um tratamento chato com uso de lente de contato dura e, em último caso, transplante de córnea. No passado, as taxas de complicações eram mais altas não por causa da técnica eu dos aparelhos cirúrgicos, mas porque não existiam tantos recursos para a avaliação pré-operatória. Outro ponto importante a ser mencionado é que quando esse paciente tiver por volta dos 40-45 anos, ele vai ter de usar óculos de perto. Então o paciente precisa ser avisado disso.
Procedimentos estéticos, como botox e harmonização facial, podem afetar a saúde ocular ou isso é mito?
Sim, tudo o que é feito perto do olho, pode comprometê-lo, com complicações definitivas ou temporárias. Por exemplo, se o botox for aplicado em uma quantidade muito grande, a pessoa perde a sustentação da pálpebra, o olho não consegue fechar direito e fica seco. A vantagem é que o Botox tem um tempo de ação definido e esse problema melhora conforme sua ação diminui. Mais grave do que isso são injeções de substâncias para harmonização facial, que podem causar rompimento de vasos sanguíneos na pálpebra ou perto do olho, embolia nas artérias que irrigam o olho e, consequentemente, cegueira. Então, o que recomendamos é fazer esse tipo de procedimento com um médico que esteja ciente das possíveis complicações e, principalmente, que saiba resolver essas complicações, se elas aparecerem.