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    porto velho, terça-feira 22 de julho de 2025

PF desconfia de versão citada por delator sobre origem de arma usada no dia do crime

Em delação, Élcio de Queiroz disse ter ouvido de Ronnie Lessa que arma pertencia ao Bope e foi comprada após incêndio em paiol.


g1

Publicada em: 26/07/2023 17:08:05 - Atualizado

BRASIL: Investigadores da Polícia Federal desconfiam que o ex-policial militar reformado Ronnie Lessa – acusado de ter efetuado os disparos que mataram Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes – pode estar escondendo, inclusive do comparsa Élcio de Queiroz, quem forneceu a arma utilizada no crime.

Em delação premiada, Élcio disse aos investigadores que Ronnie Lessa contou a ele que a arma utilizada é uma submetralhadora, que pertencia ao Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

O delator afirmou que Lessa declarou ter comprado a arma após um incêndio no paiol (local de armazenamento de armas e munições) do Bope.

"Quando o paiol do Bope pegou fogo, essa arma sumiu. Como o Ronnie já havia trabalhado no Bope com essa MP5, e gostava muito dela, procurou saber quem havia ficado com a arma e comprou a arma dessa pessoa, reformou-a e tinha um cuidado muito grande por essa arma”, afirmou Élcio na delação, segundo a Polícia Federal.

Mas a PF desconfia dessa versão porque não há rastros da arma, nem de investigação interna na PM sobre seu extravio.

A PF também encontrou contradições entre a data que Lessa teria recebido a arma – depois do incêndio no paiol do Bope, em 1982 – e a data que o próprio Bope, de fato, recebeu a arma, em 1983, ou seja, após o incêndio.

Além disso, ao ser questionada, a PM disse que não investigou as causas do incêndio e não tem o registro da arma em seu banco de dados – para saber se foi extraviada e se isso foi apurado internamente – porque um alagamento, em 2016, danificou o banco de dados.

Entenda as inconsistências:

  • O delator disse que Ronnie Lessa comprou de um terceiro a arma do Bope, que tinha sido extraviada após um incêndio no paiol do Bope no início da década de 1980
  • Em ofício, a Polícia Militar do Rio afirmou que houve um incêndio em setembro de 1982, mas que as armas só chegaram à corporação em janeiro de 1983
  • A PM disse que houve em 1984 um outro incêndio com sumiço de equipamentos, mas que, nos registros, não constam armas como a usada no crime
  • Apesar de ter enviado as informações, a PM disse que houve um alagamento em 2016, que destruiu parte de seus registros oficiais e que, com isso, não teria como pesquisar com mais detalhes

Origem da arma 'inconclusiva'

Todo esse quadro dificulta o rastreamento da arma usada na morte de Marielle e Anderson. A resposta da Polícia Militar foi enviada à PF neste mês.

"Acerca do possível extravio de uma submetralhadora H&K MP5 relacionado a estes eventos, a corporação reputou como prejudicado o questionamento pela ausência de informações disponíveis em bancos de dados. Inclusive, apontou alagamento que destruiu diversos materiais e documentos no arquivo geral do BOPE em setembro de 2016", disse a PF sobre a resposta da PM .

"Diante de tal resposta, os elementos coletados não permitem qualquer conclusão sobre a relação da arma usada na execução de Marielle Franco e Anderson Gomes e os referidos incêndios. Ressalta-se que as declarações de Élcio Queiroz sobre este assunto decorrem do que Ronnie Lessa teria dito, acarretando ainda mais incerteza e imprecisão sobre os fatos", completa a PF.


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