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    porto velho, sábado 25 de outubro de 2025

Polícia Federal vai investigar mortes por contaminação de metanol; facções são suspeitas

Polícia Federal apura a possibilidade de que a operação criminosa transcenda as fronteiras paulistas


terra

Publicada em: 30/09/2025 11:18:48 - Atualizado


BRASIL: O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou nesta terça-feira, 30, que a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a origem e a rede de distribuição de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, substância tóxica ligada a intoxicações em São Paulo. A medida surge diante da gravidade dos casos, que já somam dez intoxicações e três óbitos confirmados, e da possibilidade de que a operação criminosa transcenda às fronteiras paulistas. A polícia apura a possibilidade de participação de facções criminosas no esquema.

Lewandowski justificou a atuação da PF pela possibilidade de a rede de distribuição do produto adulterado "transcender os limites de um único estado". O ministro afirmou que, por se tratar de 'uma ocorrência grave com reflexos na saúde pública', determinou, na segunda-feira, ao diretor-geral da PF, André Rodrigues, a abertura de um inquérito. O objetivo é apurar a origem da substância e desarticular a rede de distribuição.

De acordo com o ministro, o caso chamou atenção por representar uma mudança no padrão de contaminação. "Normalmente a ingestão de metanol ocorria com relação a pessoas em situação de rua. Houve uma mudança de padrão a partir de meados de setembro, quando nós verificamos que essas intoxicações passaram a ocorrer em bares e restaurantes", afirmou. A causa apontada foi a adulteração de bebidas como whisky, gin e vodka, consumidas pelo público habitual desses estabelecimentos.

O diretor-geral da PF, André Rodrigues, detalhou as razões principais para o envolvimento da PF. "Além da questão da interestadualidade, há uma possível conexão com investigações recentes no Paraná, que se ligam a casos em São Paulo por meio da cadeia de combustíveis. Parte disso envolve a importação de metanol pelo Porto de Paranaguá", disse ele.

Sobre a natureza do crime, o diretor afirmou que a investigação apurará uma possível conexão com o crime organizado. "A investigação dirá se há conexão com crime organizado, com operações anteriores", disse. Ele adiantou, no entanto, que o trabalho terá caráter integrado, realizado em cooperação com a Polícia Civil de São Paulo e agências como a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública.

O Ministério da Justiça também determinou ao secretário nacional do Consumidor, Paulo Pereira, que abra um inquérito administrativo para apurar as violações ao Código de Defesa do Consumidor.

'Situação é anormal', diz ministro da Saúde
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou como "atípico" o surto de intoxicação por metanol registrado em São Paulo e anunciou um pacote de medidas de enfrentamento. Ele explicou que o Brasil registra uma média de 20 casos de intoxicação por metanol por ano, mas apenas em agosto e setembro já foram notificados 17 casos, concentrados no estado de São Paulo.

"Se pegarmos os números de casos de agosto e setembro, são mais ou menos os que aconteceriam no ano como um todo", afirmou. "De fato, nós estamos numa situação que é anormal, é diferente de tudo que a gente tem na nossa série histórica em relação a intoxicação por metanol no nosso País", destacou o ministro.

Diante deste cenário, o Ministério da Saúde vai emitir uma Nota Técnica específica para todo o País, reforçando a definição de caso suspeito, os sintomas e o protocolo de atendimento. Paralelamente, determinou a notificação imediata de casos suspeitos, sem necessidade de confirmação do diagnóstico, para os centros de vigilância de cada estado, e vai reforçar a rede de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), que oferecem orientação 24 horas.

Padilha também detalhou os sinais de intoxicação por metanol, que diferem de uma embriaguez comum e podem surgir de 12 a 24 horas após o consumo. Ele alertou para um sintoma inicial característico, que é uma dor distinta de uma simples queimação ou azia. Outro sinal grave é 'qualquer percepção de alteração visual', como enxergar flashes de luz ou sofrer perda parcial da visão, causadas pelo ataque das toxinas ao nervo óptico. Padilha explicou que o metanol, ao ser metabolizado pelo fígado, se transforma em substâncias como o ácido fórmico, que é 'extremamente nocivo ao sistema nervoso central'."

Diante de qualquer suspeita, a orientação do Ministério da Saúde é buscar ajuda imediata. "Começou a ter sinais, sintomas, procure de imediato um serviço de saúde", afirmou, alertando que não se pode fazer qualquer tentativa de desintoxicação caseira.

O ministro reforçou que toda a rede de saúde, de postos de saúde a hospitais, está apta ao manejo inicial, que inclui hidratação intensiva para proteger os rins. No entanto, a conduta essencial é o contato imediato com um dos 32 Centros de Informação e Assistência Toxicológica do País, que orientarão o uso do antídoto específico, um tipo de etanol medicinal registrado no Brasil, cuja administração, oral ou endovenosa, varia conforme a gravidade de cada caso.


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