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porto velho, domingo 19 de outubro de 2025
O projeto de anistia relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) conseguiu o que parecia improvável: unir, ainda que por motivos opostos, o PL de Jair Bolsonaro e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva. As duas maiores bancadas da Câmara se encontram no mesmo lado do tabuleiro — o dos que querem barrar o avanço da proposta.
Enquanto o PT não aceita qualquer brecha que possa aliviar a situação de bolsonaristas condenados pelo 8 de Janeiro, o PL reclama que o texto não vai longe o bastante. Para os aliados de Bolsonaro, reduzir penas não resolve nada; o que eles querem é anistia total.
No meio desse impasse, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) joga com o relógio. Ele prefere centralizar as negociações, deixar Paulinho gastando energia com tentativas de consenso e, de quebra, agradar a "gregos e troianos."
A estratégia tem efeito colateral: irrita tanto a base governista quanto a oposição, que enxergam na manobra uma forma de manter o controle da pauta e evitar um novo desgaste após a turbulência da PEC da Blindagem.
O impasse entre governistas e oposição dificulta qualquer tentativa de consenso. Paulinho tenta construir uma redação intermediária, mas não encontra terreno favorável. Parte dos deputados entende que o texto, mesmo ajustado, tende a perder relevância diante da resistência dos dois blocos.
Enquanto isso, o presidente da Câmara administra os tempos da Casa. A decisão de não pautar o texto imediatamente garante a ele espaço para acompanhar o movimento das bancadas e medir o custo político de cada passo.
Cada semana sem deliberação reduz a pressão sobre o plenário e mantém sob controle uma pauta que poderia gerar divisões internas.
Na prática, o ritmo lento serve a mais de um propósito: garante ao relator tempo para testar alternativas e dá ao comando da Câmara o controle sobre o calendário político. No fim das contas, a dúvida já não é se o projeto vai avançar, mas por quanto tempo Hugo Motta pretende deixá-lo em espera.
Reunião com o PL
Na última semana, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, se reuniu com o relator para discutir o texto da anistia. O deputado, porém, não cedeu à pressão do partido.
“Continuo defendendo a minha ideia de apresentar o relatório nessas condições (de redução de penas). O relatório é um negócio muito simples. Eu tenho brincado [dizendo] que meu relatório não é o voto do Fux. É um negócio curto e grosso de mexer em duas ou três penas e com isso pacificar o país”, afirmou Paulinho.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), rebateu: “Vamos continuar insistindo que a redução de penas não resolve o problema. Pessoas já cumpriram um sexto da pena. O que cabe é anistia, mas jamais nos fecharemos ao diálogo”, disse.
O PT também abriu diálogo com Paulinho da Força para discutir o texto da anistia. Segundo o líder da bancada petista na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), a reunião ocorreu em tom cordial, mas sem avanço. A posição do partido permanece a mesma: rejeição a qualquer tipo de anistia ou redução de pena, sobretudo em casos que envolvam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com a resistência simultânea de PT e PL, o relator tenta preservar espaço para negociações pontuais, embora a margem de manobra política seja cada vez menor.