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porto velho, sábado 18 de outubro de 2025
Hoje quero falar de amor — e da falta dele — nesta imensidão de matas e rios, sob o sol rondoniense -- ou sob as chuvas que parecem dilúvios nessa época do ano do inverno amazônico.
Vou falar de verde e água em abundância, que formam o retrato da criação divina. A floresta amazônica é a prova viva de que Deus ainda habita entre nós — embora o homem insista em expulsá-lo.
Mas o desafio é entender como o Divino Mestre arquitetou esse santuário para abrigar todas as formas de vida... como plantou as árvores frutíferas, as que aquecem, as que embelezam, as que curam, como Copaíbas, andirobas, manacás e alecrins.
As portentosas como as castanheiras, seringueiras, tucumãs, babaçus, açaizeiros e buritis. E, no mesmo espaço, distribuiu a fauna: onças, antas, cotias, quatis, lontras, sucuris, araras, uirapurus, sabiás e beija-flores.
Tudo ali vive em harmonia. Não há guerra nem conflito quando o homem não interfere. Os rios correm, as árvores respiram e os animais se entendem dentro dos limites impostos por Deus.
Mas, neste vale encantado, a natureza prega em silêncio o sermão que ninguém quer ouvir: o da harmonia e do respeito, mas o bicho-homem virou praga, predador de si mesmo, queima o próprio ninho e chama isso de progresso. Desmata, envenena rios e, de terno e crachá, ainda posa de protetor. A floresta é ferida, e ele se declara seu salvador. É um deboche!
E nessa calmaria da vida na floresta, por debaixo dos panos, multiplicam-se ONGs e “institutos” que se dizem defensores da Amazônia. Falam em nome da natureza, mas raramente na língua da verdade. Muitos são fachadas elegantes de interesses inconfessáveis — escritórios que lucram com o verde que dizem salvar.
Enquanto uns simulam preocupação, outros tramam em silêncio. Nos bastidores, fala-se na venda da Amazônia para os chineses, como se um bioma pudesse ter dono. Negócios de bilhões, tratados obscuros, terras sendo fatiadas sob o manto do investimento estrangeiro sob olhar piedoso das autoridades de plantão. A floresta, antes templo, virou mercadoria.
Thomas Hobbes, na sua obra Leviatã, propõe que o poder absoluto do Estado é necessário para garantir a paz e a ordem, pois os homens são naturalmente egoístas e movidos pelo medo e pela busca de poder. Dizia que o homem é o lobo do homem — e tinha razão. O ‘homo erectus’ aprendeu a andar de pé, mas continua rastejando na alma. Criou leis para conter-se, juízes para absolvê-lo e deuses falsos para adorá-lo e ainda acredita que civilização é sinônimo de destruição.
Enquanto isso, no coração da mata, um simples quatipuru observa o perigo e ensina — com o silêncio — o que é prudência. A natureza ainda sabe o que o homem desaprendeu.
Nas cidades, o caos é lei. Igrejas e partidos se engalfinham; filósofos e oportunistas disputam o trono da verdade, como dono dela fossem. Resultado: A selva de pedra engoliu a selva divina. O dinheiro virou religião e a mentira, profecia.
Enquanto na floresta a mãe castanheira geme sob o açoite da motosserra, o homem promete reflorestar o que destrói ao entardecer. Deus, talvez cansado, observa — e ainda protege os povos da floresta, os rios que resistem, as tribos que pintam o rosto de urucum e oram ao Criador verdadeiro.
Aqui fora, a harmonia se perdeu. Mídia e poderosos se devoram como feras famintas. Camões já advertira que os homens continuariam brigando — e brigam, como se o inferno fosse manchete diária.
E, no futuro, virão novas torres a cair, novas eras de chumbo, novos golpes travestidos de progresso, novos julgadores com ódio no coração. Tudo porque o homem, filho rebelde de Caim, ergueu sua própria cidade de barro, pôs o Criador para fora e cravou na porta da masmorra:
“Aqui, definitivamente está proibida a entrada de Deus. ”!
Lamentavelmente!
Amém.