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    porto velho, sábado 12 de outubro de 2024

Igarapé seca e causa a morte de dezenas de peixes em Rondônia

Sem acesso à água encanada e sem poços amazônicos, moradores de Maravilha dependem da água do igarapé e de um lago para as atividades mais básicas...


Por Jaíne Quele Cruz, Marcelo Moreira

Publicada em: 25/08/2024 10:40:17 - Atualizado

Igarapé Maravilha antes e depois da seca — Foto: Arquivo Pessoal

RONDÔNIA: Sem acesso à água encanada e sem poços amazônicos, moradores de Maravilha dependem da água do igarapé e de um lago para as atividades mais básicas. Seca extrema afeta todos os principais rios de Rondônia.

Com a seca severa e a estiagem que afeta a Amazônia, um Igarapé localizado na comunidade ribeirinha Maravilha secou, causando a morte de dezenas de peixes e dificultando o acesso à água para os moradores da região.

“[O igarapé] Secou pra gente que é humano, para os peixes e pros bichos. Pássaro, capivara, macaco: tudo vai beber água no igarapé e aí como está seco eles estão sofrendo do mesmo jeito que a gente está sofrendo”, relata Conceição, que mora próximo ao Igarapé.

O mesmo local que Conceição e a família usavam para atividades diárias e momentos de diversão, como banhos, se tornou em um cenário devastador: um cemitério de peixes.

“A minha reação foi de tristeza, de muita tristeza, de ver eles morrendo e eu não ter o que fazer pra salvar eles”, relembra.

Segundo a Defesa Civil Municipal, situações como essa ocorrem na região de Maravilha e em várias outras comunidades ribeirinhas, lagos e igarapés de Rondônia. A tendência é que a situação piore, já que os meses historicamente mais secos ainda não chegaram.

“O que está acontecendo? Falta de oxigênio na água, temperatura muito alta e eles não sobrevivem. Isso não só aqui, em outras regiões e vai acontecer mais ainda porque o rio Madeira continua baixando”, revela Anderson Luiz, gerente de operações da Defesa Civil.

Isolados e sem água

Sem acesso à água encanada e sem poços amazônicos, moradores de Maravilha dependem da água do igarapé e de um lago para as atividades mais básicas: cozinhar, lavar roupa e louça e se banhar. Coisas simples que se tornam praticamente impossíveis de serem feitas.

“Eu moro aqui na beira desse lago há 45 anos e eu nunca tinha visto essa situação que nós estamos vivendo agora [de seca]. É muito complicado expressar o sentimento não só meu, como de toda a população ribeirinha que depende desse lago”, relata Cláudio Uchoa.

De acordo com os relatos dos moradores, o Igarapé secou totalmente em menos de um mês. O medo deles é que o lago, agora única fonte de água, seque também, causando a morte das espécies que nele vivem e desabastecendo as 400 famílias que vivem no local.

“Essa água a gente usa pra tudo. E como a gente vai ficar se não tiver essa água?”, questiona Cláudio.

Sem boas previsões

Porto Velho está há três meses sem chuvas significativas. A última precipitação com um volume considerável foi em 25 de maio.

Em um período de estiagem extrema, todos os rios e afluentes de Rondônia são afetados. O rio Madeira bateu recordes de mínimas históricas: julho e julho foram os piores meses em quase 60 anos. Na maior parte do ano o rio se manteve abaixo da zona de normalidade e por várias vezes ultrapassou as mínimas já observadas historicamente.

Em 2023, a estiagem também causou mínimas históricas para o Madeira. O rio desceu para níveis críticos, até chegar a cota de 1,09 metro: o menor nível da história. O registro aconteceu no dia 5 de novembro, às 4h.

Segundo o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), os baixos níveis são registrados por dois motivos: o período de cheia que ocorre regularmente foi muito abaixo da média, dificultando a manutenção das cotas dos rios quando chegou uma seca severa e antecipada.

“O que o Censipam tem alertado desde o ano passado é que essa estiagem se absteria pela Amazônia legal e o que a gente tem percebido em relação à hidrologia, ao fogo, tudo isso se antecipou em um mês. As previsões são da manutenção desse quadro geral de estiagem severa”, revela Caê Moura, gerente do Censipam.


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