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porto velho, domingo 9 de fevereiro de 2025
MUNDO: Para muitos observadores, a posição da África do Sul sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia não é intrigante.
Enquanto o país professa ser “não-alinhado”, diplomatas ocidentais e especialistas em políticas apontam para uma série de ações que, segundo eles, provam o contrário.
Apesar do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, declarar-se "não alinhado" a Moscou, diplomas e especialistas indicam o contrário
A lista deles é longa: a África do Sul se abstendo de votar condenando a Rússia nas Nações Unidas; hospedando jogos de guerra com a Marinha Russa; repetidamente, e publicamente, criticando os Estados Unidos; e até mesmo, supostamente carregando armas e munições em um cargueiro russo sancionado.
Esta semana, enquanto muitos líderes africanos permanecem afastados, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, está participando de uma cúpula Rússia-África em São Petersburgo, juntamente com os principais ministros.
O partido governante na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), tem laços históricos com a antiga União Soviética, mas esse legado ideológico geralmente só pode ir até certo ponto.
Normalmente, o dinheiro fala. E o relacionamento comercial e de ajuda dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) com a África do Sul supera em muito a contribuição relativamente escassa da Federação Russa.
Então, por que a África do Sul está colocando em risco esse importante relacionamento? Investigadores sem fins lucrativos do Centro de Jornalismo Investigativo AmaBhungane e ativistas anticorrupção estão procurando respostas em um lugar incomum: o deserto de Kalahari.
A muitos quilômetros de quase lugar nenhum, uma parede gigante de terra se ergue sobre o matagal. É a borda de uma extensa mina de manganês, um metal crucial para a fabricação de ferro e aço.
As minas United Manganese of Kalahari (UMK), das quais esta é uma, são altamente lucrativas e a empresa tem laços financeiros estreitos com o oligarca russo sancionado Viktor Vekselberg, um importante aliado do presidente russo, Vladimir Putin.
Outro grande personagem nas minas – a Chancellor House Holdings (CHH) – é uma holding ligada ao ANC.
Durante anos, a CHH escondeu sua conexão com o partido, mas após extensas reportagens investigativas do jornal Mail & Guardian e outros meios de comunicação na África do Sul, a holding confirmou as ligações em 2021, quando os partidos políticos foram obrigados a começar a declarar grandes doações que recebem publicamente.
Seu diretor administrativo, Mogopodi Mokoena, disse à CNN em um comunicado que a Chancellor House não é uma frente de financiamento para o ANC, mas foi criada para “ajudar pessoas ou entidades sul-africanas historicamente desfavorecidas”.