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porto velho, sábado 15 de novembro de 2025

MUNDO: O acordo de comércio e investimentos Estados Unidos-Argentina, anunciado nesta quinta-feira (13), tem pelo menos um elemento de forte preocupação para o governo brasileiro.
Na linguagem diplomática, acesso preferencial significa tarifas de importação menores. No caso do Mercosul, as alíquotas são aplicadas de forma conjunta pelos quatro países do bloco -- Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Os veículos automotores -- carros e utilitários -- têm uma TEC (Tarifa Externa Comum) de 35%, nível mais alto de proteção contra concorrentes importados.
O acordo EUA-Argentina foi anunciado sem detalhes. Traz apenas princípios e setores contemplados, sem as concessões específicas de um lado e de outro.
Por isso, há um temor do lado brasileiro de como esse acesso preferencial a veículos será dado, na prática.
Os sócios do Mercosul têm direito a uma lista de exceções à TEC -- 150 ao todo, no caso de Brasil e Argentina. Ao incluir determinado produto nessa relação, pode-se aplicar uma tarifa maior ou menor, mas sem seguir os demais países do bloco.
Na avaliação de autoridades em Brasília, essa seria uma saída para Buenos Aires reduzir as tarifas sobre carros americanos, mas sem ferir regras do Mercosul.
Isso não exclui completamente, porém, as preocupações do ponto de vista comercial. Uma coisa é colocar na lista de exceções um produto com baixo intercâmbio comercial.
Outra coisa é a indústria automotiva: veículos e autopeças representaram mais de 40% de todas as exportações brasileiras ao mercado argentino nos nove primeiros meses de 2025. O impacto ao comércio bilateral pode ser significativo.
De qualquer forma, trata-se de uma preocupação preliminar, já que não houve nenhum detalhamento por parte do USTR ou do governo de Javier Milei.
Segundo uma autoridade brasileira, será necessário ainda entender com as montadoras instaladas no Brasil que tipo de veículo poderia ser exportado dos Estados Unidos para a Argentina.
Dependendo da configuração e do porte dos veículos, não havendo coincidência com o tipo de carro fabricado no Brasil, o impacto pode ser minimizado. Mesmo assim, o barateamento dos americanos no mercado argentino teria reflexos potenciais.