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porto velho, quarta-feira 5 de fevereiro de 2025
MUNDO: Quanto mais o presidente russo Vladimir Putin tenta quebrar a Otan, mais forte ela fica.
Não é primeira vez durante a guerra na Ucrânia que Joe Biden toma medidas decisivas para fechar as rachaduras na aliança. Na quarta-feira (25), o presidente americano anunciou que enviaria 31 tanques avançados para as forças armadas de Kiev, em um movimento que levou a relutante Alemanha a ceder e enviar seus próprios tanques, e que pode gerar movimentos semelhantes em toda a Europa.
Isso representou uma vitória política e militar simbólica e bastante significativa para a Ucrânia. O país espera que seu novo “punho de ferro” ataque as linhas de frente russas entrincheiradas no leste, fortaleça um avanço sobre a ponte da Crimeia ao sul, e evite uma temida ofensiva russa durante a primavera no hemisfério norte.
A habilidade de estadista de Biden conseguiu acabar com a divisão ocidental mais pública e prejudicial da guerra até agora.
Os EUA disseram anteriormente que seus tanques Abrams eram muito complexos, de manutenção alta demais para a guerra da Ucrânia e que não se adequavam ao terreno. Mas, a mudança de atitude de Biden, que dá lastro à Alemanha, ressalta a visão de Washington de que a unidade ocidental contra Putin é fundamental para salvar a Ucrânia.
De fato, o principal objetivo de Putin fora dos campos de batalha é forjar divisões entre os aliados ocidentais e interromper ou acabar com o fluxo de armas do qual depende a sobrevivência da Ucrânia como nação independente.
Seu fracasso, apesar das furiosas ameaças da Rússia para intimidar nações europeias a recusar a transferência de tanques, também surge após um inverno ameno que tirou dos russos outra de suas estratégias: a de fazer os europeus sofrerem no frio com a redução das importações de gás, na esperança de pressionar seus líderes a deixarem de apoiar a Ucrânia.
“Putin esperava que a determinação da Europa e dos Estados Unidos enfraquecesse”, disse Biden, na Casa Branca, nesta quarta-feira. “Ele esperava que nosso apoio à Ucrânia desmoronasse com o tempo. Ele estava errado… Estava errado desde o início e continua errado. Estamos unidos”.
À medida que se aproxima o primeiro aniversário da invasão russa, Biden e o Ocidente estão em uma posição extraordinária que poucos estrategistas teriam considerado possível há um ano.
A Otan está mais forte e mais unificada em anos. Isso é um desastre estratégico para a Rússia. A sensação de deriva da aliança no início dos anos 2000 foi afastada pela lembrança do propósito fundador do bloco: a defesa em comum contra a agressão de Moscou. O comportamento de Putin garantirá que essa lição que promove a aliança perdure por décadas.
Biden estabeleceu seu legado em uma grande guerra terrestre na Europa, na qual os Estados Unidos se envolveram em uma batalha por procuração com sua rival nuclear.
Esta luta – que é, de certa forma, a última batalha da Guerra Fria – é um teste de firmeza entre um presidente americano e um autocrata do Kremlin profundamente influenciado pelo impasse entre EUA e União Soviética.
Biden está liderando o mais significativo movimento de política externa desde a invasão do Iraque em 2003. Seu sucesso é fundamental para a credibilidade dos EUA, bem como para a sua própria. A magnitude da missão provavelmente ofuscará grande parte do restante de sua presidência – incluindo a investigação atual sobre documentos confidenciais extraviados – no contexto da história mundial.
Biden restaurou os EUA como um forte líder global, reavivando sua aliança transatlântica e guiando os aliados com diplomacia intensa e bem-sucedida. Por hora, o ato de equilíbrio do presidente americano – entre canalizar armas cada vez mais poderosas para a Ucrânia e evitar uma escalada com Putin, que poderia levar a um confronto com o Ocidente, ou até mesmo ao uso, por Moscou, de uma arma nuclear de menor escala – está funcionando.
Um segundo ano de guerra na Ucrânia e o aprofundamento do envolvimento da Otan testarão essa equação como nunca.
O aspecto mais impressionante da relação em desenvolvimento entre o Ocidente e a Ucrânia é que uma das supostas motivações de Putin para a guerra era evitar a possibilidade de que o ex-estado soviético se filiasse à Otan, algo que seria uma humilhação ainda maior para Moscou do que a adesão de nações que uma vez fizeram parte do Pacto de Varsóvia, como Polônia, Romênia e Eslováquia.
Agora, porém, o esforço de guerra da Ucrânia está sendo armado e financiado pelo Ocidente, quase como se fosse um estado de fato da Otan, com acesso a alguns dos sistemas de armas mais sofisticados da aliança.
A justificativa do Ocidente para esse apoio também está em desenvolvimento. Antes, o principal objetivo era permitir que uma nação indefesa impedisse uma invasão gratuita, para que seu povo tivesse a liberdade de escolher seu sistema político e sua soberania. Agora, os líderes da aliança parecem ver a Ucrânia como um bastião estratégico e vital.
“Se o presidente Putin vencer, é uma tragédia para os ucranianos, e também um perigo para nós”, afirmou na quarta-feira (25) o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, para Kate Bolduan, argumentando que não se pode permitir que uma nação autoritária exerça sua vontade e lucre com ameaças. “É do nosso interesse de segurança apoiar os ucranianos”, complementou.