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porto velho, quinta-feira 22 de maio de 2025
Discutida há meses, a ampliação do número de membros do Brics foi oficializada nesta semana. O bloco, que reúne economias emergentes e do qual o Brasil faz parte, se prepara para sair de cinco para 11 integrantes. Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que, entre outros pontos, a decisão traz mais reflexos políticos do que econômicos.
A expansão foi anunciada ao término da 15ª cúpula de líderes do bloco, na África do Sul. Brasil (B), Rússia (R), Índia (I), China (C) e África do Sul (S de South Africa) convidaram seis nações para o bloco:
Os seis países convidados terão que cumprir condições estabelecidas pelos fundadores e devem se juntar ao grupo a partir de 1º de janeiro de 2024.
Um dos fundadores do bloco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende a ampliação do grupo. Para ele, a mudança ajuda a influenciar negociações com economias mais desenvolvidas, a exemplo dos Estados Unidos e de países da Europa.
Na avaliação de especialistas, porém, o alargamento do Brics, com base nos países convidados, pode representar aumento da influência geopolítica da China, o que não assegura melhora no comércio exterior brasileiro.
Confira a seguir, nesta reportagem, o que pode mudar com a ampliação do Brics:
Uma das primeiras consequências da expansão do bloco, de acordo com especialistas, deverá ser a perda de influência do Brasil em decisões no grupo.
Isso porque, na prática, mais do que dobrar o número de participantes vai reduzir o peso individual de cada país nas discussões internas.
“Para o Brasil, que sempre defendeu a importância do Sul Global, interessa que se amplie o Brics, apesar da perda de força interna. Quando você amplia o grupo [de cinco para 11 países], a força da voz do Brasil diminui”, avalia Lia Valls Pereira, pesquisadora associada Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).
Lia Valls diz, ainda, que a ampliação fortalece a posição da China no cenário político global, além de atender a diferentes interesses dos atuais integrantes do grupo.
Segundo ela, a entrada do Irã, por exemplo, contempla a Rússia. Enquanto o Brasil patrocinou a adesão da Argentina, seu principal parceiro comercial na América do Sul.
O pesquisador Renato de Almeida Vieira e Silva relembra que a diplomacia brasileira era contrária à expansão, em uma tentativa de assegurar o peso do país no bloco.
Nos últimos meses, porém, o governo cedeu por desejar o apoio da China em uma eventual entrada definitiva no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Silva analisa também que, a partir de 2024, o Brasil precisará ter “jogo de cintura” para equilibrar o discurso internacional e o alinhamento — a nível do Brics — a ditaduras criticadas pela falta de direitos de mulheres, como Arábia Saudita.
“Vai exigir maior jogo de cintura participar de um grupo no qual alguns posicionamentos possam contrariar aquilo que o país defende nos demais fóruns internacionais, como questões ligados às liberdades individuais e democráticas, direitos humanos e sociais, costumes”, diz o pesquisador.