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porto velho, domingo 13 de abril de 2025
BRASIL: A Doença de Parkinson é uma das condições neurodegenerativas mais comuns no mundo, afetando cerca de 10 milhões de pessoas globalmente, dentre elas cerca de 200 mil brasileiros por ano, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De caráter progressivo e ainda sem cura, a doença impacta apresenta sintomas como tremores, rigidez muscular, lentidão dos movimentos e, em estágios mais avançados, alterações no equilíbrio, cognição e comportamento emocional. Apesar de avanços constantes na medicina, a busca por novas opções de tratamento, que melhor se enquadrem a cada paciente, são foco de médicos.
No Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, celebrado nesta sexta-feira (11), a CNN conversou com dois especialistas sobre o que se tem no cenário médico brasileiro de inovações no tratamento do quadro.
Um dos procedimentos de terapia avançada mais comuns é a cirurgia DBS, realizada a partir do implante de eletrodos no cérebro que enviam sinais elétricos ao corpo para aliviar os sintomas.
Segundo Marcelo Valadares, o procedimento é indicado em aproximadamente 15 a 20% dos pacientes, porcentagem que corresponde àqueles em que o efeito da medicação não está mais presente.
“A gente chama isso de períodos de rigidez ou períodos de aumento do tremor. A cirurgia também é eficaz naqueles que apresentavam melhora com medicamentos, mas em determinado momento começam a ter complicações.”
A DBS é contraindicada para pacientes que tiveram nenhuma resposta à Levodopa já que, conforme explica o médico, as vias cerebrais onde o DBS age são similares às vias onde atua o remédio popular.
“Pacientes muito idosos também, acima de setenta e cinco anos, são pacientes que muitas vezes não lidam bem com o processo cirúrgico ou são pacientes que apresentam quadros de demência diante de alterações cognitivas”, ressalta o profissional.
O chamado ultrassom focado guiado por ressonância é um tratamento novo no Brasil, indica Marcelo Valadares.
“Ele é muito importante para pacientes que tem o predomínio do sintoma de tremor. Muito tremor, pouca rigidez”, diz Valadares.
O procedimento é feito em uma única sessão e Marcelo promete ser uma coisa “minimamente invasiva”. “Não tem corte, você faz uma lesão em uma estrutura milimétrica do cérebro através de ultrassom”, explica.
No entanto, ele é restrito à pessoas que têm sintomas de tremor predominante em apenas um dos lados do corpo. “Ele ainda pode ser usado em pessoas com idade mais avançada que não desejam ou não toleram uma cirurgia.”
Uma das medicações mais recomendadas aos pacientes com Parkinson é a Levodopa. “Ela funciona tão bem porque a substância transformada em dopamina no organismo e a doença de Parkinson tem na sua base a falta desse neurotransmissor em determinada região do cérebro”, explica o profissional. A substância está envolvida em processos como sensação de prazer, motivação, aprendizado e a coordenação motora.
“O grande problema é que, ao longo dos anos, o uso contínuo da dopamina leva à adaptações do organismo que fazem com que o remédio não funcione tão bem mais, ou geram efeitos colaterais ao uso contínuo da medicação”, adverte Valadares.
Apesar disso, ainda é o remédio mais recomendado para a maioria dos pacientes.
Outros medicamentos podem ser administrados, ora combinados com a Levodopa ou não. Isso dependerá da necessidade de cada tipo de paciente.
“Nós temos outras substâncias que não são precursores de dopamina, mas agem nos mesmos receptores. E nós temos também remédios que vão influenciar a forma como a dopamina é processada e absorvida no organismo”, acrescenta o médico.
Embora ainda limitadas, o neurologista Luis Otavio Caboclo considera que as evidências científicas abrem uma possibilidade real de utilizar a Cannabis medicinal para ampliar o cuidado dos pacientes com a doença.
Ele explica que a Cannabis contém compostos conhecidos como canabinoides, sendo o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC) os mais estudados.
“Tais substâncias interagem com o sistema endocanabinoide do organismo, responsável por regular funções como controle motor, dor, humor e sono – todas frequentemente afetadas em pacientes com Parkinson”, explica o especialista. A combinação e a dosagem ideais, no entanto, ainda são objetos de pesquisa.
“O uso da Cannabis medicinal deve sempre ser acompanhado por um profissional de saúde qualificado. Países como Canadá, Estados Unidos e Brasil já permitem seu uso sob prescrição médica, em situações específicas”, informa Caboclo.
“Há uma expectativa de que, no futuro, se possa envolver a inteligência artificial nos tratamentos, de forma a ter soluções mais personalizadas para cada paciente”, indica Marcelo Valadares.
“Nós temos também a perspectiva da chegada ao Brasil da Levodopa de gel via intestinal. Ela é importante pra alguns pacientes, com quadros bastante avançados, que não tem indicação de cirurgia. Temos também em caráter de pesquisa estudos visando terapia gênica e estudos estudos com células tronco, que estão em fases bem iniciais, mas prometem trazer novas opções de tratamento”, conclui o neurocirurgião.