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porto velho, segunda-feira 13 de outubro de 2025
“Infelizmente, na maioria das vezes, a gente acaba parando a correria da rotina e prestando atenção na saúde mental quando ela já está completamente afetada. Foi isso que aconteceu comigo”, conta Mariana (nome fictício), servidora pública, de 34 anos.
Após a pandemia, com o retorno ao trabalho presencial, a mulher passou a ter crises de ansiedade que, com o tempo, evoluíram para crises de pânico e ideação suicida.
“Eu nunca havia feito terapia, mas chegou um momento em que eu notei que realmente precisava de ajuda”, lembra a servidora, que faz sessões semanais de psicoterapia há quatro anos e não quis se identificar na matéria.
Nesta sexta-feira (10) é celebrado o Dia Mundial da Saúde Mental, data que alerta para a urgência do tema, que, para muitos brasileiros, assim como Mariana, se tornou uma prioridade na rotina.
De acordo com pesquisa divulgada pela Ipsos Health Service, 52% da população do país considera o bem-estar psicológico sua principal preocupação quando o assunto é saúde.
O relatório, que entrevistou a população de 30 países, apontou que, em termos globais, 45% das pessoas veem o adoecimento psicológico como um problema de saúde em sua nação, classificando-a à frente do câncer (41%) e da obesidade (25%).
O estudo compara, ainda, os resultados atuais com a última pesquisa, realizada em 2018, e relaciona o aumento dessa percepção à pandemia de Covid-19. A proporção de pessoas que veem a saúde mental como um problema cresceu 18 pontos percentuais, mundialmente, desde 2018.
O aumento da preocupação com a saúde mental também reflete o crescimento da preocupação com o estresse. De acordo com a pesquisa, 31% dos entrevistados o consideram um problema, e 59% afirmam que, em 2024, passaram por momentos em que se sentiram tão estressados que não conseguiram lidar com determinada situação.
Para a psicóloga Denise Milk, a procura por atendimentos relacionados à saúde mental aumentou muito desde a era da Covid-19, especialmente por questões ligadas a tensões do ambiente de trabalho.
“As pessoas passaram a repensar o que significa produtividade, e muitas perceberam que estavam vivendo em um ritmo insustentável. O modelo de trabalho remoto, o retorno presencial e as constantes mudanças nas relações profissionais trouxeram novas formas de pressão e ansiedade”, aponta a profissional.
De acordo com Milk, o público feminino ainda é maioria na abertura emocional e disposição em buscar ajuda.
“Os homens, em muitos casos, ainda enfrentam barreiras culturais que os fazem esconder o sofrimento por medo de parecerem frágeis, o que acaba agravando os sintomas ao longo do tempo”, afirma.
A psicóloga diz notar, em seus atendimentos, desafios frequentes em cada etapa da vida.
“Entre os mais jovens, há uma consciência crescente sobre a importância da saúde mental, mas também um nível alto de cobrança e insegurança profissional. Já entre os adultos mais experientes, noto uma preocupação maior com a estabilidade e a dificuldade de se adaptar às novas formas de trabalho e à cultura digital”, explica.
Com o crescimento da demanda por atendimentos psicólogos, é necessário aumentar também a oferta. A pesquisa da Ipson apontou que, no país, apenas 34% dos entrevistados afirmaram que o sistema de saúde é bom ou muito bom.
Entre os defeitos apontados pela população, o acesso ao tratamento e tempo de espera para procedimento foi o mais mencionado (43%), assim como a falta de investimentos (39%) e a baixa preocupação do sistema com saúde preventiva (34%).
De acordo com a 13ª edição do Relatório Saúde Mental em Dados, do Ministério da Saúde, o Brasil contava, em 2024, com 3.019 CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) em seu território.
A quantidade de estabelecimentos cresceu 65% nos últimos dez anos, com a criação de 810 novas unidades entre 2014 e 2024. O aumento, porém, é inferior ao registrado no recorte de 2004 a 2014, quando a quantidade de CAPS aumentou 265%, passando de 605 para 2.209.
No país, o indicador de CAPS para 100 mil habitantes é de 1,13. O número é apropriado para os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde, embora seja registrada uma discrepância entre as regiões brasileiras. Enquanto no Nordeste o indicador chega a 1,28, no Norte o número cai para 0,79.
Procurado pelo R7, o Ministério da Saúde afirmou que a assistência para pacientes que buscam atendimento psicológico é oferecida por meio da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), que inclui CAPS, UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), Prontos-Atendimentos e UBSs (Unidades Básicas de Saúde).
“Entre 2023 e 2024, o orçamento da RAPS cresceu R$ 650 milhões, o que representa um aumento de 40% em relação ao orçamento anterior — passando de R$ 1,6 bilhão em 2022 para R$ 2,25 bilhões em 2024. Essa variação reflete a habilitação de novos serviços e a recomposição do custeio dos já existentes, fortalecendo a rede em todo o país”, afirmou a pasta.
“Além da expansão da rede, o ministério investe em educação permanente para os profissionais do SUS, em parceria com instituições de ensino e pesquisa, visando qualificar o cuidado e fortalecer as equipes nos territórios”, completou.
O ministério não respondeu se a quantidade atual de CAPS atende a demanda da população ou se há planos de construção de novas unidades. O espaço para respostas segue aberto.