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porto velho, terça-feira 21 de outubro de 2025
Cientistas deram um passo importante no combate à cegueira causada pela degeneração macular relacionada à idade, uma das principais causas de perda irreversível da visão no mundo. Um pequeno chip implantado no fundo do olho, aliado a um par de óculos com câmera, devolveu a capacidade de leitura a pessoas que não conseguiam distinguir sequer palavras impressas. Os resultados do estudo clínico conduzido por pesquisadores da Stanford Medicine, na Califórnia (EUA), e parceiros internacionais foram publicados no New England Journal of Medicine, nesta segunda-feira (20/10).
O dispositivo, chamado PRIMA, é o primeiro implante ocular a restaurar visão funcional em pacientes com perda de fotorreceptores — células da retina responsáveis por captar a luz. Em vez de apenas detectar clarões, como em próteses anteriores, o PRIMA permite formar imagens simples. “Somos os primeiros a oferecer visão de formas”, disse Daniel Palanker, professor de oftalmologia de Stanford e coautor do estudo.
Um total de 38 participantes recebeu o implante, dos quais 32 acabaram avaliados após 12 meses. Dos seis participantes que não foram avaliados, três morreram, um desistiu e doisnão estavam disponíveis para teste. Dos 32 participantes que completaram um ano de uso do implante, 27 voltaram a ler textos e 26 tiveram melhora clínica significativa na acuidade visual. Alguns alcançaram desempenho equivalente a enxergar com 20/42 de visão quando usavam recursos digitais dos óculos, como zoom e contraste reforçado.
A tecnologia funciona em duas partes. Uma câmera acoplada a óculos especiais capta imagens e as envia ao chip implantado na retina por meio de luz infravermelha, invisível ao olho humano. O chip converte os sinais luminosos em estímulos elétricos que substituem a função dos fotorreceptores destruídos pela doença. O dispositivo é fotovoltaico, ou seja, alimentado apenas por luz, sem a necessidade de fios ou baterias.
Os voluntários do estudo tinham mais de 60 anos e sofriam de atrofia geográfica, forma avançada da degeneração macular. Após algumas semanas de adaptação, os participantes passaram a treinar o uso da prótese e, com o tempo, conseguiram voltar a atividades como ler livros, cardápios, rótulos e placas de metrô. Dois terços disseram estar satisfeitos com o resultado.
Houve efeitos colaterais em 19 pessoas, como pressão alta nos olhos e pequenos sangramentos. Nenhum caso foi considerado grave, e quase todos se resolveram em até dois meses.
O invento é fruto de duas décadas de pesquisa. Palanker teve a ideia em 2005, inspirado pelo uso de lasers terapêuticos. “O dispositivo que imaginamos agora funciona surpreendentemente bem em pacientes”, afirmou.
Por enquanto, o PRIMA só oferece visão em preto e branco, mas os cientistas trabalham em uma nova versão com tons de cinza, considerada fundamental para reconhecer rostos, desejo comum entre os pacientes. Também há planos para aumentar a resolução do chip: enquanto o modelo atual tem 378 pixels, uma futura versão pode chegar a 10 mil, aproximando-se de uma visão de 20/80 e até 20/20 com zoom eletrônico.
Os pesquisadores pretendem ainda testar a tecnologia em outros tipos de cegueira causados por perda de fotorreceptores. "Esta é apenas a primeira geração", disse Palanker. “O melhor ainda está por vir.”