Fundado em 11/10/2001
porto velho, quinta-feira 23 de outubro de 2025
BRASIL: Um estudo japonês publicado na primeira semana de outubro na revista Nature Cell Biology sugere que o embranquecimento dos cabelos pode estar relacionado a um mecanismo natural de proteção contra o câncer. Pesquisadores da Universidade de Tóquio investigaram como as células-tronco dos melanócitos, responsáveis pela pigmentação dos fios, respondem a diferentes tipos de danos ao DNA e descobriram que elas podem seguir destinos divergentes, influenciando tanto o envelhecimento capilar quanto a predisposição ao câncer.
As células-tronco dos melanócitos (McSCs) residem nos folículos pilosos e geram melanócitos maduros, mantendo a pigmentação ao longo da vida. A equipe liderada pela professora Emi Nishimura e pelo professor assistente Yasuaki Mohri utilizou rastreamento de linhagem in vivo em camundongos e análise de expressão gênica para identificar como essas células reagem a danos genéticos.
O estudo mostrou que as McSCs expostas a quebras de fita dupla do DNA entram em um processo chamado senodiferenciação, no qual se separam irreversivelmente e são eliminadas. Esse mecanismo, acionado pela via p53-p21, leva ao embranquecimento dos cabelos e funciona como uma forma de remover células potencialmente nocivas do organismo.
Em contrapartida, quando as McSCs são expostas a carcinógenos como 7,12-dimetilbenz(a)antraceno ou radiação ultravioleta B, elas contornam a senodiferenciação e continuam se autorrenovando. Esse processo é apoiado pelo ligante KIT, produzido pelo nicho local e pela epiderme, permitindo que as células se expandam e aumentem o risco de formação de tumores.
Nishimura explica que “essas descobertas revelam que a mesma população de células-tronco pode seguir destinos antagônicos dependendo do tipo de estresse e dos sinais microambientais”. Ela acrescenta que “isso reformula o envelhecimento capilar e o melanoma não como eventos não relacionados, mas como resultados divergentes das respostas das células-tronco ao estresse”.
O estudo ressalta que o envelhecimento dos cabelos não previne diretamente o câncer, mas indica que a senodiferenciação é uma via protetora que elimina células potencialmente prejudiciais. Quando esse mecanismo é contornado, a persistência de células danificadas pode favorecer o desenvolvimento do melanoma.