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    porto velho, quarta-feira 10 de setembro de 2025

Porto Velho vive “guerra das farmácias” em meio a cenário crítico de saneamento básico

Esse cenário contribui para a alta demanda por medicamentos e produtos de saúde — reflexo direto da sobrecarga no sistema público...


Redação

Publicada em: 10/09/2025 09:43:20 - Atualizado

PORTO VELHO - RO - Em Porto Velho, a disputa pelo consumidor virou quase um campo de batalha: redes como a azul e a vermelha travam uma intensa competição pela clientela, a ponto de — em certas esquinas — três farmácias se enfrentarem de portas opostas. A forte concentração reflete não só ambição comercial, mas também um contexto social preocupante.

Especialistas apontam que esse fenômeno está fortemente ligado à precária situação do saneamento básico na cidade. Dados recentes revelam que, em 2022, apenas 41,79% da população tinha acesso ao abastecimento de água potável — o menor índice entre os municípios mais populosos do Brasil.

Quanto à coleta de esgoto, Porto Velho registrou apenas 9,89% de cobertura, ficando entre as últimas posições no ranking nacional. Pior ainda, o tratamento de esgoto atinge apenas 1,71% da população.

Esse cenário contribui para a alta demanda por medicamentos e produtos de saúde — reflexo direto da sobrecarga no sistema público de saúde e da propagação de doenças de veiculação hídrica. Em um círculo vicioso, a falta de acesso a serviços básicos estimula o negócio farmacêutico em áreas densamente povoadas, transformando certas esquinas em verdadeiras vitrines do setor.

A concorrência acirrada faz com que as farmácias triangulem preços, ofereçam promoções agressivas, pontos de fidelidade e layouts chamativos para atrair clientes. Enquanto isso, urbanistas alertam: essa lógica comprime outros tipos de comércio, reforça a homogeneização urbana e aprofunda desigualdades já visíveis na cidade.

Nos bastidores, há quem questione quem realmente está por trás da multiplicação dessas redes. O avanço repentino de outras bandeiras locais e regionais levanta especulações. Alguns analistas de mercado ponderam, em tom reservado, se a rápida abertura de tantas unidades rentáveis em áreas próximas não poderia servir, em certos casos, como cortina para outras finalidades — inclusive mecanismos de esquemas financeiros menos transparentes, como operações de lavagem de dinheiro. Nada comprovado, mas uma dúvida que ecoa cada vez mais no mercado e na própria sociedade civil.

Até que o saneamento seja universalizado — meta que o Novo Marco Legal do Saneamento prevê para 2033 — a tendência é de que esta “guerra das farmácias” continue, como denúncia explícita das fragilidades que permeiam a infraestrutura da capital rondoniense.


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