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porto velho, quinta-feira 30 de outubro de 2025

A Caixa Econômica Federal confirmou que lançará sua plataforma própria de apostas on-line até o fim de novembro. A iniciativa tem como meta recuperar parte das receitas das loterias tradicionais, que registraram queda no último ano. Segundo o presidente do banco, Carlos Antônio Vieira Fernandes, a expectativa é arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões em 2026.
O lançamento marca a entrada do banco estatal no mesmo mercado ocupado por mais de 180 marcas privadas de apostas digitais, que juntas movimentaram R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre de 2025, segundo a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda.
Entidades de defesa do consumidor, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), criticaram a decisão, apontando que o banco público estaria contrariando sua função social ao operar em um segmento associado ao endividamento e ao vício em jogos. O Idec destacou que a marca estatal “legitima o azar como produto estatal, emprestando-lhe credibilidade que o mercado privado jamais teria”.
Popularidade dos cassinos on-line
Dados recentes de uma plataforma autorizada a oferecer jogos de cassinos on-line oferecem uma visão sobre a popularidade do setor. O principal tipo de jogo para o público brasileiro são os slots (93,9%), seguidos pelos crash games (4,2%) e roletas (0,69%).
Os provedores PG Soft e Pragmatic Play dominam o mercado, sendo responsáveis por mais de 70% das rodadas registradas em setembro de 2025. Entre os jogos mais procurados estão Fortune Tiger, o popular “jogo do tigrinho” e Gates of Olympus, ambos com presença constante nas plataformas de cassinos virtuais.
Apesar do otimismo da Caixa, o governo federal pretende impedir o lançamento da plataforma. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve discutir o tema ao retornar de viagem à Ásia, com a intenção de convencer a diretoria do banco a suspender o projeto.
Auxiliares do Planalto afirmam que a iniciativa contraria o discurso de “justiça tributária” e pode fortalecer a chamada bancada das bets no Congresso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido a taxação mais rigorosa sobre as apostas on-line, argumentando que o vício e o endividamento associados ao setor geram impactos na saúde pública.
Há ainda um componente político: o presidente da Caixa foi indicado por líderes do PP, partido ligado a figuras que apoiam o setor de apostas, como Arthur Lira e Ciro Nogueira. Isso aumenta a resistência a qualquer tentativa do governo de barrar a operação.
Legalização dos cassinos
Enquanto o governo tenta conter o avanço das bets, o Senado Federal ainda avalia o futuro do projeto de lei 2234/2022, que trata da legalização de bingos e cassinos. A proposta foi retirada de pauta em duas oportunidades, a mais recente em julho deste ano.
Parlamentares como Sérgio Moro (União-PR) e Flávio Arns (PSB-PR) argumentaram que a votação exigiria maior estudo sobre os efeitos das apostas no país, especialmente após o crescimento de plataformas digitais.
O relator Irajá (PSD-TO), contudo, defendeu a legalização sob fiscalização estatal, afirmando que a medida poderia coibir a atuação do crime organizado. Apesar do impasse, líderes partidários admitem que a proposta pode voltar à pauta ainda neste ano.
