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porto velho, sexta-feira 19 de setembro de 2025
BRASIL O Brasil teve um salto, nos últimos anos, no número de médicos e hoje cerca de 545,4 mil profissionais estão em atividade no país. Isso dá 2,56 para cada mil habitantes - próximo ao índice de outros países, como os Estados Unidos.
Os números, no entanto, confirmam a desigualdade na distribuição e na fixação de médicos pelo Brasil: a maioria (mais de 290 mil) está concentrada somente nas capitais, atendendo a 24% da população brasileira. Entre as regiões, o Norte é a mais deficitária.
Os dados, divulgados nesta segunda-feira (6), são do Conselho Federal de Medicina (CFM) e aparecem na Demografia Médica, plataforma que neste ano ganhou uma versão digital, que deverá ser atualizada a cada seis meses. Antes, os números eram disponibilizados de forma impressa a cada dois anos.
O aumento no número de médicos acompanhou o boom de escolas médicas e de vagas na última década. Em 2010, a proporção de médicos por mil habitantes era de 1,76 e havia 343,7 mil registros de médicos no país - em 2022, os registros subiram para quase 600 mil (tem médico que faz mais de um registro para atuar em estados diferentes).
De acordo com o CFM, como os médicos têm uma vida profissional longa (cerca de 43 anos), alguns estudos já estimam que o Brasil deve alcançar quase 837 mil médicos em cinco anos.
Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, há um número exacerbado de escolas médicas no Brasil, "muitas sem a menor condição de funcionamento".
Com esse excesso de faculdades de medicina, temos excesso de profissionais hoje no Brasil. Como não há uma política abrangente, a maior concentração fica na região Sul e Sudeste, onde há praias, há tudo.— José Hiran Gallo, em coletiva de imprensa
Nesta reportagem, você vai encontrar os principais dados do censo médico brasileiro:
O levantamento traça um perfil do médico que atua no Brasil.
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os estados que têm uma média de idade mais alta entre a população médica: 50,3 anos e 47,8 anos. Já os estados com médicos mais jovens são Tocantins e Rondônia, com média de idade de 41 anos.
As mulheres devem tomar conta da profissão nos próximos anos: atualmente, elas representam 49,07% do total de profissionais (267 mil). Já os homens representam 50,9% (277,7 mil).
Em 1990, as mulheres eram apenas 30% da força de trabalho médica. A presença feminina subiu para 39,9% em 2010 e, agora, ocupa quase a metade do total de profissionais.
O Brasil vive um cenário de desigualdade na distribuição, fixação e acesso aos médicos. A maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, nas capitais e nos grandes municípios.
As 27 capitais brasileiras reúnem 54% dos médicos - uma média de 6,21 médicos por mil habitantes. Já no interior estão 46% dos médicos - 1,72 profissional para cada mil habitantes.
Entre as regiões, de acordo com o CFM:
Para o CFM, a desigualdade na distribuição de médicos pelo país passa pela falta de atrativos e de condições mínimas de trabalho. Segundo a entidade, o Brasil necessita de políticas públicas para deslocar profissionais dos grandes centros urbanos para o interior e para cidades pequenas. E mais: fazer com que o médico permaneça por lá.
"Não adianta colocar só o profissional sem um mínimo de condições para exercer a medicina de qualidade, sem ter uma infraestrutura de trabalho, leitos, equipamentos, medicamentos, acesso a exames e uma equipe multiprofissional", defendeu o presidente do CFM.
Gallo afirma que a proposta do governo Lula (PT) de retomar o Mais Médicos pode ser um caminho para suprir a carência de profissionais pelo interior do país, mas defende que médicos formados do exterior, brasileiros ou estrangeiros, passem pelo Revalida para atuarem no Brasil.
Com o registro no Conselho Regional de Medicina de cada estado, o profissional é autorizado a atuar na UF, mas não significa que ele trabalhe de forma fixa por lá. No Acre, por exemplo, há 1.219 médicos com registros ativos, mas 146 informaram um endereço residencial fora do estado.
O interior de Santa Catarina possui 2,25 médicos/mil habitantes. Em Roraima, há 0,15 médicos/mil habitantes.
Os dados do interior contam todos os municípios do estado, menos a capital. A plataforma ainda não fornece dados por município ou áreas de concentração de acordo com a especialidade do médico, mas, segundo o CFM, os recursos devem estar disponível nos próximos meses.
O Brasil é um dos países que registraram maior crescimento no número de médicos para cada mil habitantes, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), órgão que divulga estatísticas anuais sobre saúde de países-membros e parceiros.
De acordo com o CFM, a tendência é de que, em 2028, o Brasil tenha 3,63 médicos por mil habitantes, caso seja mantido o mesmo ritmo de crescimento da população e de oferta de escolas médicas.