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Padre de única igreja católica na Faixa de Gaza não sabe pra onde ir e teme ser morto

Um oficial do grupo Hamas descreveu a ordem de Israel como "propaganda falsa" e instou os cidadãos locais a ignorá-la.


G1

Publicada em: 13/10/2023 10:54:06 - Atualizado


MUNDO: A única igreja católica que atende à pequena comunidade cristã que vive em Gaza se tornou um abrigo — desta vez não para quem procura conforto espiritual, mas para mais de 500 pessoas de diferentes religiões cujas casas foram destruídas.

"Nossa paróquia virou um campo de refugiados", disse à BBC o padre argentino Gabriel Romanelli, pároco da Sagrada Família, a única igreja católica na cidade de Gaza e na Faixa de Gaza. Romanelli está atualmente em Belém, na Cisjordânia, tentando voltar para Gaza.

Após o ultimato de Israel nesta sexta-feira (13/10) para que mais de um milhão de pessoas do norte da Faixa de Gaza desocupem a região em 24 horas e se dirijam ao sul, para "segurança e proteção", a comunidade vive momentos de pânico e incerteza.

"Temos centenas e centenas de refugiados na estrutura da Igreja, incluindo crianças, deficientes, idosos, doentes. Como movê-los? E para onde? O sul de Gaza é terra aberta. O que há lá? Primeiro, como fazer para movê-los? E depois, o que fazer por quando chegarmos lá?", diz à BBC News Brasil.

Enquanto a ONU fez um apelo para Israel retirar a ordem, dizendo que é impossível mover 1,1 milhão de pessoas, o Hamas diz para que palestinos da região fiquem onde estão.

Um oficial do grupo Hamas descreveu a ordem de Israel como "propaganda falsa" e instou os cidadãos locais a ignorá-la.

A Faixa de Gaza abriga 2,2 milhões de pessoas — 1.017 das quais são cristãs, de acordo com a diocese local. "A maioria é ortodoxa. A comunidade católica é muito pequena", diz o sacerdote.

O complexo da igreja inclui o templo principal, três escolas e uma capela, onde missas, orações e confissões são feitas em árabe.

Desde o ataque do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, e os bombardeios israelenses que vieram na sequência, cristãos e muçulmanos partilham estes espaços dia e noite.

Eles procuram notícias sobre parentes desaparecidos ou em tratamento em hospitais lotados, à medida que aumentam os temores de uma ofensiva terrestre de Israel.

O Papa Francisco ligou duas vezes para o padre Romanelli nos últimos dias, segundo a AgenSir, agência de notícias oficial da Conferência dos Bispos Italianos.

"Ele queria saber como estamos, como está a situação", disse o padre Romanelli à BBC News Brasil. "Ele disse que estava muito preocupado. Eu agradeci. Foi como uma gota d'água neste deserto."

O Papa Francisco ofereceu bênçãos à comunidade.

"Ele ligou novamente na terça-feira, dia 10, e o colocamos no alto-falante da Igreja, para que todos pudessem ouvir", conta.


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