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porto velho, quarta-feira 21 de maio de 2025
MUNDO: O governo francês anunciou a construção de uma prisão de segurança máxima no território da Guiana Francesa, na região amazônica, voltada a abrigar traficantes de drogas e condenados por radicalismo islâmico. A unidade será construída em Saint-Laurent-du-Maroni e faz parte de um complexo penitenciário de R$ 2,5 bilhões, com inauguração prevista para 2028.
O anexo de segurança máxima fará parte de uma prisão de US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) com capacidade total para 500 detentos. A construção do presídio está prevista desde 2017, mas originalmente não previa o recebimento de prisioneiros de alta periculosidade vindos da França continental, segundo o G1.
Segundo o ministro da Justiça francês, Gérald Darmanin, 60 vagas serão destinadas ao novo setor de segurança máxima — 15 delas reservadas a condenados por radicalismo islâmico. “Minha estratégia é simples — atingir o crime organizado em todos os níveis. Essa prisão será uma salvaguarda na guerra contra o narcotráfico”, disse Darmanin ao jornal Le Journal du Dimanche, durante visita ao território.
O ministro argumenta que a localização isolada da unidade penitenciária, no meio da selva amazônica, “servirá para isolar permanentemente os chefes das redes de tráfico de drogas” de seus contatos externos.
Região tem histórico penal
Saint-Laurent-du-Maroni é vizinha ao Brasil e ao Suriname e já serviu de sede para o histórico Campo Penal de Saint-Laurent, que operou entre os séculos 19 e 20. O local abrigou prisioneiros políticos, incluindo os enviados à famosa Ilha do Diabo. A colônia penal ficou conhecida internacionalmente pelo livro e filmes Papillon.
Atualmente, a Guiana Francesa é o território ultramarino com maior índice de criminalidade proporcional à população entre os domínios franceses. Em 2023, foram registrados 20,6 homicídios por 100 mil habitantes — quase 14 vezes a média nacional da França. A região também é uma rota conhecida de tráfico de drogas, com muitos passageiros tentando embarcar para Paris transportando entorpecentes.
Reações locais
O anúncio do novo presídio causou indignação entre autoridades e moradores locais. Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa — instância legislativa com 51 membros — criticou o projeto e afirmou que ele foi feito sem diálogo com as lideranças locais. “É, portanto, com espanto e indignação que os membros eleitos da Coletividade descobriram, junto com toda a população da Guiana, as informações detalhadas no Le Journal du Dimanche”, disse em comunicado oficial.
Fereira destacou que o projeto de 2017 previa apenas a construção de uma nova unidade para aliviar a superlotação no sistema prisional local — e não para receber presos perigosos de outras regiões da França. “A Guiana não deve se tornar um depósito de criminosos e pessoas radicalizadas vindas da França continental”, afirmou.
O deputado franco-guianense Jean-Victor Castor também se posicionou contra o projeto, classificando-o como “um insulto à nossa história, uma provocação política e um retrocesso colonial”. Ele pediu que o governo francês suspenda imediatamente os planos.