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porto velho, segunda-feira 3 de fevereiro de 2025
MUNDO: A última vez que o líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, se sentaram frente a frente, eles declararam triunfantes a chegada de uma “nova era” nas relações internacionais.
Em meio a um boicote diplomático ocidental aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e uma crise iminente na Ucrânia, os dois autocratas mais poderosos do mundo compartilharam suas visões de uma nova ordem mundial: acomodaria melhor os interesses de suas nações e não seria mais dominada pelo Ocidente.
Em uma declaração conjunta de 5.000 palavras, os dois líderes declararam uma amizade “sem limites” e expressaram suas queixas compartilhadas em relação aos Estados Unidos e seus aliados.
“O mundo está passando por mudanças importantes”, disseram na declaração conjunta, observando a “transformação da arquitetura de governança global e da ordem mundial”.
Mais de 200 dias depois, Xi e Putin se encontraram novamente em uma cúpula regional na cidade de Samarcanda, no sudeste do Uzbequistão. Muita coisa mudou, mas não necessariamente da maneira que a China ou a Rússia poderiam ter previsto.
Três semanas depois de se encontrar com Xi Jinping, em Pequim –e apenas alguns dias após o término das Olimpíadas de Inverno–, Putin lançou uma invasão em grande escala à Ucrânia. Ele esperava uma vitória rápida, mas, sete meses depois, a Rússia está longe de vencer. Suas forças estão exaustas, desmoralizadas e fugindo dos territórios que ocupam há meses.
E isso está deixando a China nervosa. Tendo se aproximado cada vez mais de Moscou sob Xi, Pequim tem uma participação direta no resultado da guerra. Uma Rússia derrotada fortalecerá o Ocidente e se tornará um ativo menos útil e confiável na grande rivalidade da China com os Estados Unidos. Uma Moscou enfraquecida também pode ser uma distração menor para os EUA, permitindo, assim, que Washington se concentre mais diretamente em Pequim.
Xi tem uma linha tênue a trilhar. Se ele se inclinar demais para ajudar a Rússia, corre o risco de expor a China a sanções ocidentais e golpes diplomáticos que prejudicariam seus próprios interesses. A reação também ocorreria em um momento delicado para Xi, que está a apenas algumas semanas de buscar um terceiro mandato no 20º Congresso do Partido.
Até agora, as duas potências autoritárias não chegaram nem perto de moldar a ordem mundial a seu favor –se alguma coisa, especialistas dizem que a guerra da Rússia contra a Ucrânia serviu para fortalecer a determinação ocidental.