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Como a Copa do Mundo mudou a maneira como o mundo vê o Catar no Ocidente

País cresceu diante os olhos do mundo, mas também se envolveu em polêmicas repercutidas fortemente no Ocidente


CNN

Publicada em: 19/12/2022 10:04:39 - Atualizado

MUNDO: O Catar ficou no centro do mundo nas últimas semanas – e foi uma boa viagem.

Para os cataris, a Copa do Mundo não só permitiu que o país demonstrasse a sua capacidade de organizar um torneio tão importante, como foi uma oportunidade para expor ao mundo a sua cultura, exibindo tudo do país, de sua arquitetura à hospitalidade do povo.

Estar nos holofotes também colocou uma lupa no país e grande parte da cobertura, particularmente no mundo ocidental, se centrou nos casos de violações de direitos humanos do governo do Catar, incluindo as mortes e condições precárias a que foram submetidos os trabalhadores imigrantes que ergueram os estádios da Copa, e o desrespeito do país aos direitos LGBTQIA+ e das mulheres.

Por que o Catar queria sediar a Copa do Mundo?

O Catar é um país minúsculo – tem área pouco maior que metade do menor estado brasileiro, o Sergipe –, mas, apesar disso, tem-se afirmado como um ator global em termos políticos e econômicos nos últimos anos.

Além de ser um dos maiores exportadores de gás natural líquido do mundo, o Catar tem assumido o papel de mediador internacional de conflitos, trabalhando para garantir a retirada das forças do Afeganistão em agosto de 2021 e sediando negociações indiretas entre autoridades norte- americanas e iranianas em Doha.

O país também se destaca por abrigar a sede da Al Jazeera, a principal rede de mídia do mundo árabe.

“Acho que o Catar não quer ser apenas uma grande potência energética. Acredito que esteja tentando ganhar projeção internacional ao se oferecer para ajudar nos esforços de resolução de conflitos mundiais”, opinou Anna Jacobs, analista sênior do International Crisis Group (ICG), especializado em assuntos do Golfo.

Sediar uma Copa do Mundo tem um papel importante nessa diversificação.

“Acho que o esporte representa uma ferramenta política para as relações externas do país”, afirma Danyel Reiche, professor associado visitante da Universidade de Georgetown no Catar, que está liderando uma iniciativa de pesquisa na Copa do Mundo de 2022.

O mundo inteiro está agora com os olhos voltados para o Catar, comenta Haya Al Thani, de 32 anos, que trabalha para a Teach for Qatar, uma organização que ajuda a resolver problemas enfrentados por alunos das escolas locais.

“Ao viajar, eu sempre precisava explicar onde fica o Catar, porque as pessoas não tinham ideia da localização do país. Agora ficou mais fácil”, disse Al Thani direto da Virginia Commonwealth University School of the Arts, no Catar.

“Tem sido muito doloroso”

No entanto, sediar a Copa do Mundo expôs a situação dos direitos humanos no Catar a um público muito mais amplo.

“Não acho que o Catar tenha uma reputação campeã em direitos humanos em primeiro lugar. Mas é que seu histórico também não estava sob tanto escrutínio”, disse à CNN o doutor H.A. Hellyer, analista do Oriente Médio da Carnegie Endowment for International Peace da Universidade de Cambridge.

É difícil verificar quantos trabalhadores imigrantes morreram como resultado do trabalho realizado em projetos ligados ao torneio.

O jornal britânico “The Guardian” informou no ano passado que 6,5 mil trabalhadores do sul da Ásia haviam morrido desde que o país foi escolhido como sede da Copa em 2010.

A maioria das vítimas estava envolvida em trabalho perigoso, muitas vezes empreendido sob calor extremo. A reportagem não ligou todas as 6,5 mil mortes a projetos de infraestruturas da Copa e não foi verificada de forma independente pela CNN.

Em uma entrevista ao apresentador Piers Morgan, que foi ao ar no canal britânico TalkTV em novembro, Hassan Al- Thawadi, secretário-geral do Comitê Catar Supremo, a organização local encarregada de organizar a Copa do Mundo, disse que entre 400 e 500 trabalhadores imigrantes morreram como resultado do trabalho realizado em projetos ligados ao torneio – um número maior do que as autoridades do Catar haviam admitido anteriormente.

Rothna Begum, pesquisadora sênior da Human Rights Watch, disse que seus relatórios documentando abusos de direitos humanos no país foram desencadeados por pessoas e mulheres LGBTQIA+ do Catar que procuraram sua organização.

“A sociedade do Catar, que é bastante fechada, via a Copa do Mundo como uma oportunidade de fazer soar o alarme, com a esperança de que a exposição mundial do país pudesse permitir algumas mudanças”, analisou.


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