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porto velho, quinta-feira 6 de novembro de 2025

PORTO VELHO (RO) - Apresentado pelo jornalista e advogado Arimar Souza de Sá, o programa A Voz do Povo desta quinta-feira (6) recebeu o professor Suamy Lacerda, ex-secretário estadual de Educação de Rondônia, que falou sobre os desafios da educação no estado e no país.
Educador com longa trajetória na área, Suamy afirmou que o Brasil ainda está muito distante dos padrões de qualidade observados em escolas do eixo Sul e Sudeste.
“Existe uma distância enorme no que se entende por escola entre o eixo Sul e o Centro-Norte. Temos poucas unidades com estrutura compatível com um nível de país desenvolvido. Os modelos são antigos, a estrutura é defasada, e as crianças ainda têm pouco acesso à tecnologia da informação e a ferramentas modernas de aprendizagem”, destacou.
Segundo ele, os gestores de educação enfrentam sérias dificuldades para implementar políticas públicas consistentes.
“Nenhum gestor pode ditar sozinho os rumos da educação. Autonomia não é soberania. Quando assumi a SEDUC, encontrei escolas sem biblioteca ou auditório. A pandemia paralisou programas importantes, e cada ministro que entra no MEC quer mudar tudo. Chegamos a alterar a grade curricular três vezes em um ano por conta desses mandos e desmandos”, relatou.
Lacerda também fez um alerta sobre o futuro da profissão docente, chamando atenção para a desvalorização e o esvaziamento da carreira.
“Em 2040 talvez restem apenas meia dúzia de professores, e olhe lá — os que ficarem, será porque não encontraram outra coisa para fazer. A profissão precisa de valorização, estrutura e um novo modelo de atuação. A entrada de profissionais de outras áreas está tornando o recurso ainda mais escasso, e a fatia do bolo da educação vai ficando cada vez menor”, avaliou.
Outro ponto levantado pelo ex-secretário foi o aumento da violência e do desrespeito dentro das escolas.
“Hoje, o professor vive oprimido por uma cultura de desvalorização. ‘Coitadinho do aluno, coitadinho do pai dele’, e o professor é quem paga a conta. Qualquer conflito vira denúncia no Ministério Público, e isso tem desmotivado muitos profissionais”, desabafou.
Durante a entrevista, Suamy lembrou ainda o trabalho de contenção de gastos realizado durante sua gestão na SEDUC.
“No início do governo passado, eliminamos fundações que absorviam parte dos recursos da educação. O modelo atual não cuida do aluno expoente, mas sim do aluno fracassado. Ainda há crianças chegando ao último ano sem saber escrever corretamente”, afirmou.
Por fim, criticou a formação dos professores, que segundo ele, chega às escolas distante da realidade.
“As universidades formam docentes desconectados da prática. Mestres e doutores fazem os alunos estudarem os mesmos textos de suas teses, sem relação com o cotidiano da sala de aula. As secretarias de educação acabam herdando o fracasso dos cursos a distância e de políticas públicas inconsistentes”, concluiu.
Veja A Voz do Povo: