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    porto velho, segunda-feira 13 de outubro de 2025

O Vinho, o Verso e a Defesa: Delicadeza, Leveza e a Dureza da Missão do Advogado...


Por Dr. Fadrício Santos

10/10/2025 09:23:28 - Atualizado

Por dr. Fadricio santos

A advocacia criminal, em especial nos casos de repercussão e de intensa comoção pública, é um campo em que se exige não apenas conhecimento técnico, mas também sensibilidade, firmeza e coragem. Trata-se de um exercício que, por sua complexidade, pode ser metaforicamente comparado à experiência do vinho e à construção poética do verso. O vinho ensina a delicadeza da percepção; o verso, a leveza da comunicação; a defesa, por sua vez, revela a dureza da missão do advogado que se ergue como guardião do Estado de Direito diante do clamor popular.

A delicadeza do vinho e o olhar jurídico apurado

Assim como o vinho é apreciado em suas camadas sensoriais, aroma, corpo, acidez, taninos, a defesa criminal se constrói na atenção aos detalhes que escapam ao olhar apressado. O advogado experiente sabe que um processo penal não se decide apenas em grandes teses, mas também em pequenas fissuras probatórias: uma divergência entre depoimentos, uma perícia mal conduzida, uma falha no reconhecimento de pessoas.

A delicadeza do vinho, portanto, simboliza a precisão técnica da defesa: o criminalista que percebe o que ninguém mais vê, que retira força de onde todos veem fragilidade. É nessa sutileza que se encontra a grandeza do trabalho defensivo.

A leveza dos versos e a arte da palavra no tribunal

O verso bem construído carrega consigo uma leveza capaz de mover consciências. No tribunal, a defesa deve dialogar com a razão, mas também com a emoção e a humanidade do julgador ou do corpo de jurados.

A palavra do advogado, quando bem articulada, tem o mesmo efeito da poesia: não apenas informa, mas transforma. É a habilidade retórica que dá vida aos princípios constitucionais da presunção de inocência, da ampla defesa e do devido processo legal. O discurso da defesa, em sua melhor forma, é como um poema: rigoroso em sua técnica, mas dotado de ritmo, cadência e força persuasiva que tocam além da letra fria da lei.

A dureza da missão em tempos de comoção pública

Se o vinho traz delicadeza e o verso traz leveza, a defesa carrega uma dura realidade: a incompreensão social. Nos casos de grande repercussão, o advogado criminalista enfrenta não apenas o Estado-acusação, mas também a opinião pública, a mídia e, por vezes, a hostilidade coletiva.

É nesses momentos que se revela a coragem do verdadeiro defensor. Não se trata de defender o crime, o que seria moralmente inaceitável, mas de assegurar que nem mesmo o pior dos acusados seja julgado fora dos marcos da legalidade. O advogado sustenta o impopular, não por conveniência, mas por convicção na ordem constitucional. O silêncio do defensor diante do arbítrio equivaleria à conivência com a erosão da democracia.

Entre delicadeza, leveza e dureza: a síntese da missão

A experiência ensina que o ofício do criminalista é, antes de tudo, civilizatório. Do vinho, aprende-se a cultivar a delicadeza do olhar técnico e apurado. Do verso, a importância da palavra justa, clara e sensível. Da dureza da missão, nasce a consciência de que o advogado criminalista não é apenas operador do direito, mas um verdadeiro escudo da Constituição.

Em um cenário em que a opinião pública muitas vezes clama por punição sumária, a defesa é o último bastião contra o arbítrio. Ela existe para lembrar que o processo penal não é um instrumento de vingança, mas um mecanismo de justiça.

Conclusão

O vinho, o verso e a defesa formam uma tríade simbólica que revela a essência da advocacia criminal. O vinho ensina a delicadeza necessária para perceber detalhes que salvam; o verso, a leveza indispensável para comunicar o direito em sua plenitude; e a defesa, a dureza inevitável de enfrentar a incompreensão social para proteger direitos fundamentais.

Assumir essa missão é um ato de coragem. Exige preparo técnico, maturidade e convicção inabalável na função contramajoritária da advocacia. O advogado criminalista, em última análise, é aquele que resiste quando todos se calam, é aquele que sustenta a Constituição quando o clamor social deseja esquecê-la.


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