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    porto velho, sábado 9 de agosto de 2025

Qual é a sua bolha?


Por Walterlina Brasil

08/08/2025 16:18:05 - Atualizado

O Brasil vive uma sobreposição de tensões que não se limitam aos noticiários: elas atravessam nosso cotidiano, apontam o tema das nossas conversas, silenciam afetos. Refiro-me aos eventos midiáticos, porém reais como o aumento abrupto de tarifas, os impasses no legislativo e judiciário brasileiro que indevidamente inspiram gestos extremos de confronto político. Estes não são apenas eventos isolados. São sintomas de um ambiente em que o senso de estabilidade foi corroído. Nesse cenário, cada indivíduo reage como pode: alguns se retraem, outros se inflamam, muitos se desconectam. A pergunta que se impõe não é: “como isso nos afeta por dentro?” e “como reagimos”? Um fenômeno revelador de pistas para entendimento ou respostas, é as “bolhas”. A psicóloga Vanessa Dockhorn, no artigo publicado pelo Politize, define bolhas sociais como grupos que se formam por afinidade e acabam excluindo quem pensa diferente. Embora tragam sensação de segurança, essas bolhas limitam o crescimento pessoal e dificultam o convívio com a diversidade de ideias

Bolhas?

Em tempos de instabilidade, o ser humano tende a buscar abrigo em espaços que ofereçam segurança emocional e validação identitária. As chamadas “bolhas sociais e informacionais” emergem como resposta ao excesso de estímulos, conflitos e incertezas que marcam a vida contemporânea. Mais do que simples agrupamentos, essas bolhas funcionam como zonas de conforto, onde ideias, crenças e afetos são compartilhados e reforçados quase que de forma exclusiva. Assim, criam uma sensação de pertencimento que contrasta com o caos externo e podem ser tecnológicas, ideológicas e também emocionais. Elas se formam quando o excesso de estímulo externo se torna insuportável, e o mundo lá fora parece exigir mais do que se pode oferecer; alteraram o sentido de “grupo social” ou equipe de trabalho. Noto que o medo da instabilidade econômica, a descrença nas instituições e a saturação de discursos polarizados criaram um terreno fértil para o isolamento e, ao mesmo tempo, petrificação de relações, anteriormente saudáveis, racionais e de grupos porosos pela temperança.

Porém, não se trata de simples ignorância, mas de exaustão. A negação, nesse contexto, é menos uma escolha racional e mais um mecanismo de sobrevivência. E, ainda assim, essas bolhas não são impermeáveis: o caos encontra brechas, infiltra-se em silêncios, altera rotinas, mina vínculos. Em quaisquer dos casos, o efeito colateral tem sido fulminar institucionalidades necessárias para o bem-estar coletivo.

Cenário.

Os dados revelam um cenário em que o caos não é apenas uma metáfora: ele é mensurável, visível e cotidiano. O tarifaço de Donald Trump, o bloqueio político no Congresso Nacional e a angústia econômica não são eventos isolados, mas forças que moldam o comportamento social.

No caso do Congresso Nacional as ações interromperam o andamento legislativo e impediram a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, o que atrasou decisões diretamente ligadas à gestão pública. Diante da falta de consenso entre Executivo e Legislativo sobre o ajuste de despesas, especialistas apontam a possibilidade de um apagão institucional, com impactos sobre a capacidade do Estado de manter suas funções básicas.

Tem saída?

As bolhas não são apenas fenômenos tecnológicos ou sociais; elas são também expressões subjetivas de um tempo marcado pela fragmentação e pelo medo. Ao mesmo tempo que oferecem proteção, elas limitam o horizonte de possibilidades, criando realidades paralelas que dificultam o reconhecimento da complexidade do mundo. Romper essas barreiras exige coragem para retomar o diálogo, abertura ao contraditório e disposição para habitar o desconforto que acompanha o encontro com o outro. Só assim será possível reconstruir pontes em meio ao ruído e recuperar a dimensão coletiva da existência.

A proposta aqui é simples, mas exigente: olhar para dentro sem perder a conexão com o que está fora. Porque, por mais que o caos pareça distante, ele já está entre nós... e só o enfrentamos quando deixamos de fingir que não nos toca.

Saiba Mais? Algumas referências.

Artigo. Bolhas e Algoritmos. https://www.teoriadigital.com....;

Artigo. Polarização e prejuízo a Democracia. https://www.politize.com.br/o-...;

Noticia: Ocupação da Câmara.

https://valor.globo.com/politi...;

Noticia: Riscos do tarifaço.

https://g1.globo.com/economia/...;


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