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    porto velho, quarta-feira 15 de outubro de 2025

Contraste entre Marcos Rogério e Fúria; Garimpo ilegal no Madeira expõe...


Por Robson Oliveira

15/10/2025 10:41:55 - Atualizado

ADULAÇÃO

Não houve um único dirigente partidário entrevistado por este cabeça chata no Podcast Resenha Política que não tenha se ajoelhado em louvores ao prefeito da capital, Léo Moraes. É uma unanimidade digna de missa de corpo presente: todos querem o apoio do homem. As razões não exigem esforço analítico — basta olhar as pesquisas. Os números de aprovação de Léo explicam por que tanto figurão o trata com o fervor reservado a santos de devoção repentina. A política, afinal, é o único altar onde se reza por interesse.

SANTINHO

A história eleitoral de Porto Velho é avara em dados sobre quem realmente transfere votos. Mas é certo que hoje, quem subir no mesmo palanque de Léo Moraes sai na frente — ainda que leve o microfone desligado. Em tempos de candidatos que não arrastam nem parente, o prefeito virou ativo valioso. Um aval de Léo vale mais que santinho em domingo de eleição.

TIKTOK

Léo Moraes, o “prefeito TikTok”, reina nas redes com a desenvoltura de um influencer em campanha eterna. O homem dança, sorri, põe colante, peruca e fala com o eleitor como quem vende açaí — e dá certo. Cada vídeo é um comício em miniatura. O sucesso irrita um vereador desafeto, que se corroe entre filtros e hashtags furiosos. Mesmo sem disputar cargo em 2026, Léo continuará sendo o político mais paparicado do pedaço. A inveja, como se sabe, é o mais democrático dos sentimentos políticos. Ele aparece é todas as plataformas. Dia e noite.

ISOLAMENTO

Enquanto isso, o ex-prefeito Hildon Chaves tenta ressuscitar o PSDB com a energia de quem sopra brasa molhada. Anunciou sua pré-candidatura ao governo prometendo, em trinta dias, apresentar uma nominata de tucanos competitivos. O prazo venceu, e o que se viu foi uma revoada solitária: Hildon, ele mesmo, e o eco do seu próprio discurso. O isolamento político é cruel — sobretudo quando o sujeito acredita que liderança é sinônimo de autoelogio.

PLANOS

Mantido o isolamento, Hildon terá de descer do pedestal e rever planos. O sonho de disputar o governo pode se transformar, no máximo, em uma candidatura de consolação — talvez a deputado federal, onde há oxigênio em abundância. O Senado, ele sabe, é uma arena congestionada de vaidades e egos hipertrofiados. A vice-governadoria, por outro lado, é o cargo que todos os adversários adorariam empurrar para ele, com tapinha nas costas e sorriso de velório. À medida que 2026 se aproxima, o ex-prefeito terá de escolher entre reinventar-se ou permanecer como está: isolado e redundante. Quem viver, verá.

PROFETAS

O senador Marcos Rogério (PL) anda proclamando aos quatro ventos sua candidatura ao governo, como se fosse profeta em terra de incrédulos. É lembrado para o Senado e pontua também para o governo, o que já é mais do que a maioria consegue. Os sabichões de plantão garantem que, em um eventual segundo turno, Rogério seria presa fácil. Esquecem que, em Rondônia, o improvável é regra e o previsível, exceção.

BOÇAL

Eleições majoritárias são como corridas de jegue: vence quem tropeça menos. O perfil do candidato pesa mais que qualquer discurso decorado. Nesse quesito, a boçalidade jovial de Adailton Fúria — que confunde empolgação com preparo — pode ser seu maior inimigo. A gritaria, o improviso e o espetáculo permanente encantam por um instante, mas cansam rápido.

CONTRASTE

Já Marcos Rogério, com toda sua pompa de político estudioso e metódico, acaba parecendo um estadista comparado ao prefeito guri de Cacoal. Em um eventual segundo turno, a comparação entre o improviso barulhento e a experiência ensaiada pode jogar o eleitor no colo do senador. Em política, o excesso de entusiasmo é tão fatal quanto a falta de noção — e Fúria, nesse quesito, é um entusiasta profissional.

TURISMO

O carioca Cabo Daciolo resolveu transferir o título para Rondônia. Anuncia, sem corar, que será candidato ao Senado. É direito dele — e desgraça nossa — que a legislação eleitoral permita esse tipo de turismo político. O sujeito sequer mora aqui, mas a lei, generosa como uma mãe desnaturada, autoriza a farra.

VASSOURADA

A candidatura, sejamos francos, não mereceria nem uma nota de rodapé. Mas, como o Cabo já se aventurou na eleição presidencial — terminando, claro, no fim do cabo da vassoura —, este escriba se vê obrigado, por dever de ofício, a gastar algumas linhas com a figura.

CABO

Não é análise, é necropsia política. A pretensão eleitoral de Daciolo é tão rasa que até poça d’água se sente ofendida com a comparação. Aposto os pelos de uma vassoura velha que o Cabo vai pontuar nas urnas em algo entre o zero e a imaginação de seus devotos. Há por aí quem aposte o contrário — deve ser algum soldado do Cabo, desses que acreditam que fé multiplica voto.

MESSISMO

Não é a primeira aparição desse tipo em Rondônia. Já tivemos o “Homem do Chapéu”, o cantor Dalvan e outros aventureiros do populismo tropical. Todos vieram com a mesma ladainha messiânica e terminaram no mesmo lugar: o esquecimento.

MILAGRE

Cabo Daciolo não será exceção. Mas, justiça se faça, já conseguiu mais do que merecia: parágrafos inteiros nesta coluna. Um milagre maior que todos os que ele promete. Nem Zé Carioca conseguiria algo igual.

CRIME

É comovente — quase uma coreografia de cinismo — ver nossos parlamentares se dedicarem a justificar o injustificável, transformando o crime em ato de bravura cívica. A exploração de ouro no Rio Madeira, sem autorização legal, é crime — simples assim. Mas, para suas excelências, parece um detalhe burocrático. Garimpeiros rasgam o leito do rio e despejam mercúrio como quem joga confete em carnaval fora de época, celebrando a própria ilegalidade sob aplausos cúmplices. E ainda há quem critique os policiais por fazerem o que deveriam: cumprir a lei. No Brasil, o crime não é apenas tolerado — é tratado como expressão de liberdade econômica.

COP

Faltando poucos dias para a COP 30, o governo brasileiro se empenha, com inegável competência diplomática, em transformar Belém na vitrine de um país que pretende conciliar desenvolvimento e preservação. Um esforço legítimo e necessário. Mas, enquanto Brasília ensaia discursos verdes para impressionar o mundo, parte do Congresso rema em sentido contrário — defendendo, sem pudor, atividades que depredam o meio ambiente e afrontam a legislação. O governo tenta mostrar civilização; o Parlamento insiste na Idade da Pedra. Assim, o país que busca protagonismo climático corre o risco de ser lembrado como o velho Brasil: abundante em recursos, miserável em juízo


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