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porto velho, sexta-feira 22 de novembro de 2024
BRASIL- O estudante de 14 anos que atirou contra colegas no Colégio Goyases, em Goiânia, foi ouvido pelo Juizado da Infância e Juventude na manhã desta sexta-feira (27). Ao lado dos pais, que também prestaram depoimento, ele disse que está arrependido pelo crime, segundo informou a advogada da família, Rosângela Magalhães.
De acordo com a defesa, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu a avaliação psicológica do estudante, que foi determinada pela Justiça. O MP confirmou ao G1 que fez o pedido.
Rosângela contou que os pais do adolescente, que são policiais militares, abraçaram o filho quando o viram no Juizado. A advogada informou ainda que a família está abalada e que os pais disseram à juíza que o filho nunca apresentou um comportamento diferente.
"Para todos os familiares isso foi uma situação de extrema surpresa. O menino era um menino ajustado, nunca houve nenhum tipo de reclamação ou algum fato passado que levasse a essa preocupação. Trata-se de uma família harmônica, que sempre teve uma relação tranquila. Eles se abraçaram por um breve momento, porque tudo é muito corrido", contou Rosângela.
A audiência começou por volta das 10h desta sexta e terminou às 12h30. A advogada afirmou que tem até a próxima segunda-feira (30) para apresentar a defesa escrita para a juíza para que, em seguida, seja agendada uma nova audiência. "Todas essas testemunhas devem ser ouvidas em uma mesma audiência", disse.
O pai do garoto já havia prestado depoimento à Polícia Civil na segunda-feira (23). Na ocasião, ele afirmou que não sabia que o filho era vítima de bullying --fato que, segundo as investigações, teriam motivado os disparos.
A mãe ainda não foi ouvida pela corporação. Ela tinha depoimento marcado para esta manhã na Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai), mas não havia comparecido até as 10h30. A advogada afirmou que sua cliente não compareceu ao depoimento porque estava à disposição do Judiciário.
André Bueno, advogado da família de João Pedro Calembo, um dos mortos, criticou o fato do depoimento não ter acontecido na Depai. Ele cobra que os pais do garoto sejam ouvidos no processo. "É lamentável. A família das vítimas e a sociedade têm pressa de saber o que aconteceu, as motivações, todos os fatos que cercam esta tragédia. É muito ruim para a investigação adiar desta maneira", afirmou.
Bueno compareceu nesta manhã ao Juizado da Infância e Juventude de Goiânia e disse que a família da vítima pediu para ter acesso aos autos do processo. "Trata-se de um ato infracional, ou seja, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA] prevê esse sigilo, esse acesso mais restrito. Mas nós vamos insistir, porque queremos acompanhar cada passo dessa história que tirou a vida do João Pedro, do João Vitor e feriu tantos outros colegas deles", afirmou o advogado.
A Escrivania de Ato Infracional informou ao G1 que a liberação do advogado aos autos do processo está em andamento, sendo analisada.
A mãe do atirador também é investigada em um inquérito na Polícia Militar. Segundo o assessor de imprensa da corporação, tenente-coronel Marcelo Granja, ela pode ser ouvida em até 60 dias no procedimento aberto para apurar o uso da arma da PM no ataque.
Ainda de acordo com Granja, a Corregedoria já designou um oficial para o caso. Em vias normais, primeiramente são ouvidas testemunhas e, posteriormente, o militar investigado. O pedido de apuração foi feito pelo batalhão ao qual ela pertence.
"O inquérito tem um prazo de 40 dias para transcorrer, mas o encarregado pode pedir uma prorrogação de mais 20 dias caso sinta necessidade. Ela pode ser ouvida a qualquer momento nesse período. Porém, como ela está medicada e se recuperando de uma internação em casa, acho que deve demorar alguns dias", disse Granja ao G1.
Após esse período, o encarregado emite um parecer e o repassa para o superior que solicitou o inquérito. Este, por sua vez, o encaminha para a Auditoria Militar, onde o documento é analisado pela promotoria e por um juiz, que decidirá se a sargento será ou não punida.
O crime aconteceu no fim da manhã do último dia 20, na sala de aula do 8º ano da escola, no Conjunto Riviera. Os tiros foram disparados por um aluno da classe, de 14 anos, no intervalo entre duas aulas. Ele foi apreendido no mesmo dia e depois transferido da delegacia para um centro de interação.
Marcela Macedo, de 14 anos, internada no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), passa por cirurgia para recolocação do dreno torácico que está utilizando. Já Isadora de Morais, de 14 anos, está na mesma unidade de saúde. A situação dela é a mais complicada. Os médicos constataram que ela ficou paraplégica após a vértebra ser atingida. Além disso, ela passou por uma cirurgia no pulmão.
Segundo o Hugo, o estado de saúde de Isadora é regular. Ela passou a noite sem intercorrências e está em "processo de retirada da ventilação mecânica".
Os outros dois, Hyago Marques, 13, e Lara Fleury, 14, receberam alta e já prestaram depoimento à Polícia Civil.
Durante os disparos, além de João Pedro Calembo, João Vitor Gomes, ambos de 13 anos, também morreu.