• Fundado em 11/10/2001

    porto velho, segunda-feira 13 de outubro de 2025

RO não é ‘Terra Sem Lei’ - e muito menos pátio de testes para aventureiros políticos

Que o Cabo Daciolo grite seus “Glórias” onde quiser, mas que saiba: Rondônia não é curral eleitoral, nem altar de delírios místicos...


Redação

Publicada em: 13/10/2025 10:34:50 - Atualizado

Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Rondônia não é ‘Terra Sem Lei’ — e muito menos pátio de testes para aventureiros políticos

Arimar Souza de Sá

Na vida há limites para tudo — até para o folclore político brasileiro. O caso do Cabo Daciolo, morador do Rio de Janeiro, que decidiu transferir seu título eleitoral para Ariquemes e ensaia uma candidatura ao Senado por Rondônia em 2026, ultrapassa a fronteira do bom senso e fere o respeito que o eleitor rondoniense merece.

O que começou como piada de rede social mais uma daquelas bravatas de “glória a Deusxx" e “volta, Daciolo!” —, agora se materializa em certidão emitida pelo TSE, e infelizmente, é verdade.

Rondônia, Estado de gente trabalhadora, de mãos calejadas, que ergueu do nada cidades, rodovias e economia própria, não pode ser tratada como depósito eleitoral para políticos errantes em busca de palco. Daciolo, que já prometeu o “milagre da dívida zero” e profetizou golpes divinos em plena TV nacional, agora mira um eleitorado evangélico que, segundo sua leitura simplista e rasa, aqui seria terreno fértil para seus  delírios messiânicos. 

Ledo engano! O cabo vindo para cá de paraquedas, comete equivoco grosseiro. Aqui, fé e razão caminham lado a lado, e o voto — ao contrário do que ele imagina — não se compra com versículos soltos nem com gritos de “Glória!” em auditório improvisado e nem muito menos  é pousada de quem perdeu o rumo político. É terra de quem constrói, não de quem profetiza. E se ele acha que pode pousar como anjo em missão, que se lembre: por aqui, até os anjos precisam provar que trabalham.

A transferência de domicílio, registrada no dia 3 de outubro, é o primeiro passo de uma tentativa de usurpar o protagonismo político de um Estado sério, que não tem espaço para quem chega de paraquedas e tenta se apropriar da voz de seu povo. Rondônia não é refúgio para forasteiros em busca de reinvenção política. É terra de quem constrói, não de quem profetiza.

O eleitor rondoniense já viu esse filme antes. Na década de 80, o “Homem do Chapéu”, Múcio Atayde, se elegeu com promessas fáceis e malas cheias — e depois nunca mais pisou aqui. A história parece querer se repetir, mas a maturidade política do Estado é outra. Hoje, Rondônia não precisa de salvadores autoproclamados, mas de gestores sérios, comprometidos com a realidade e não com o espetáculo.

Que o Cabo Daciolo grite seus “Glórias” à vontade — de cima do púlpito, da praça ou do telhado, se preferir —, mas que entenda de uma vez por todas: Rondônia não é curral eleitoral nem púlpito para delírios messiânicos. Esta é terra de fé discreta e de mãos calejadas, onde o trabalho fala mais alto que qualquer sermão de ocasião. 

Aqui, o povo planta, colhe, paga imposto e não aceita ser figurante na epopeia mística de quem tenta transformar religião em escada política. Porque em Rondônia, o voto é sagrado — e o ridículo, graças a Deus, ainda tem limite.



Fale conosco